Mostrar mensagens com a etiqueta Miguel Torga. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Miguel Torga. Mostrar todas as mensagens

sábado, 16 de junho de 2007

Comunicado- Miguel Torga

Na frente ocidental
nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem ninguém que lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair.

Começo- Miguel Torga

Magoei os pés no chão onde nasci.
Cilícios de raivosa hostilidade
Abriram golpes na fragilidade
De criatura
Que não pude deixar de ser um dia.
Com lágrimas de pasmo e de amargura
Paguei à terra o pão que lhe pedia.


Comprei a consciência de que sou
Homem de trocas com a natureza.
Fera sentada à mesa
Depois de ter escoado o coração
Na incerteza
De comer o suor que semeou,
Varejou,
E, dobrada de lírica tristeza,
Carregou.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Miguel Torga






Apontamentos Bio-bibliográficos






Adolfo Correira da Rocha nasceu a 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho de Anta ( Trás-os-Montes), onde frequentou a escola primária. Depois de uma curta passagem pelo seminário de Lamego, partiu para o Brasil, com apenas treze anos, regressando a Portugal, após o que se matricula na Faculdade de Medicina, licenciando-se em 1933.
Tenda publicado em 1928 um pequeno livro de versos, Ansiedade, colaborou em seguida na Presença, que viria a abandonar. Rampa, em 1930, é a obra em que começa a afirmar a sua verdadeira força poética. Dirigiu também a revista Sinal, a que se seguiu uma outra, Manifesta, tendo também colaborado na Revista de Porutgal. Com A Terceira Voz, em 1934, surgiria o pseudónimo que o tornaria uma das maiores figuras das letras portuguesas: Miguel Torga. Com o seu espírito de independência e a originalidade da sua escrita, à margem de grupos literários, criaria uma obra com características muito próprias, que lhe conferem um lugar destacado na nossa literatura.
Após breve passagens profissionais por Vila Nova (Miranda do Corvo) e Leiria (onde viria a ser preso e remetido para os cárceres salazaristas), fixa-se definitivamente em Coimbra, onde desenvolveu, a par da sua actividade médica, o oficio de escritor, através de uma obra multifacetada, abrangendo os diversos géneros literários, da poesia a conto, do teatro ao romance, sem esquecer textos de empenhada afirmaçao ou os volumes autobiográficos da Criação do Mundo e as reflexões e poemas que nos deixou nos dezasseis volumes do seu Diário. A sua vasta bibliografia granjeou-lhe o reconhecimento do valor da sua obra, não só em Portugal, que retratou em páginas admiráveis, mas também por esse mundo fora, me que, traduções nos mais diversos paises e idiomas e prémios literários significativos, tomariam o seu nome verdadeiramente universal.
Com a tenacidade com que construiu a sua obra literária e exerceu a sua actividade de médico, lutando no seu isolamento criador, enfrentou estoicamento a doença que acabara por vencê-lo no dia 17 de Janeiro de 1995. E quando no dia seguinte, fez a derradeira viagem de Coimbra para Agarez natal da sua ficção, de Miguel Torga ficava para todo o sempre a originalidade e a força da sua obra singular.

Quando em 1925, o jovem Adolfo Rocha chega a Coimbra, para em três anos fazero curso dos liceus e ingressar na Faculdade de Medicina, estava, porventura, longe de imaginar que na Cidade do Mondego iria cumprir uma longa jornada de sete décadas. Setenta anos quase ininterruptos de estudo, de estudo, de devotado serviço a dois amos, a medicina e as letras, médico e escritor, tornando-se universal com o nome de Miguel Torga. Coimbra que lhe inspirou os versos que lhe ditou a escrita e foi janela aberta para o Portugal que calcorreou e o Mundo que percorreu. E onde os dias da sua criação atingiram os cumes literários e recebeu os ecos da sua consagração.Por isso, esta exposição é um breve retrato dessa jornada sem fim, pois para sempre se sentirá em Coimbra a presença de Torga, como para sempre estará Coimbra bem viva na sua obra.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Miguel Torga

MIGUEL TORGA


O poeta desenvolve três linhas de pensamento:
“um desespero humanista”,
“uma problemática religiosa”
“um sentimento telúrico”.
O desespero humanista é visível na revolta e no inconformismo que levam à solidão e à angústia, pela incerteza no próprio divino que conduz ao pessimismo.
Relativamente à problemática religiosa, o poeta manifesta permanentemente conflito entre o divino e o terreno. Para poder fazer afirmar o homem nega Deus. O sagrado é então expresso pela própria vida e pela força da terra. Deus é uma palavra obsessiva que o poeta receia tal como teme o absoluto. Nutre um sentimento telúrico de inspiração genesíaca. A terra é vista como um lugar de realização do ser humano e da sua ligação ao sagrado. Na terra fértil a fecundação permite a vida do homem que se reproduz na busca de novas vidas.
Miguel Torga projecta na sua escrita as suas preocupações com o ser humano, as suas limitações e a sua necessidade de transcendência. Manifesta apego aos limites carnais, terrenos e uma revolta espontânea contra os mesmos limites.