Tema: Os agouros, superstições e mitos em Frei Luís de Sousa, de A. Garrett.
Na obra Frei Luís de Sousa verifica-se a renovação de temas desvalidos pelas obras de cultura clássica, pois, com o romantismo instauraram-se assuntos patrióticos com sensibilidade histórica e mitológica. O aparecimento do mito sebastianista e de outros presságios, nesta obra, reforçam o caracter romântico de Garrett e o interesse e atractivo no desenrolar deste drama, pois a contrariedade de sentimentos em relação ao aparecimento de D. Sebastião não é apreciado, na obra, de uma maneira uniforme e invariável.
Tendo em conta a época histórica da obra, o aparecimento de el-rei D. Sebastião seria algo benéfico para o reino, contudo não se verifica tal interesse na sensibilidade da maioria das personagens. É o caso de D. Madalena e de D. Manuel de Sousa Coutinho que preferem não acreditar no sebastianismo, pois se o fizerem admitem não só o regresso de D. Sebastião, mas ainda, o aparecimento do primeiro marido de Madalena, D. João de Portugal. Com a análise psicológica de Madalena comprova-se que esta tem vivido cheia de temores durante toda a sua vida amorosa, devido ao acidente que lhe adiantou o casamento com D. Manuel e ao facto de se ter apaixonado por este quando ainda era cônjuge de D. João, (este acto, na sua consideração, é admitido como pecado e crime).
As superstições e mitos, nesta peça, são fundamentais. As crenças, os sonhos e o interesse profético de Maria servem como advertência e aviso daquilo que se avizinha, fornecendo, ainda, amparo ao desconhecimento sobre a influência do passado na sua existência. Madalena, como forma de desacreditar as ideias da filha, convence Telmo a não lhe prestar nenhuma informação, pois Madalena, através do desenrolar de diversas quimeras, vê a ignorância dos factos a única maneira de se salvar a si e à sua filha, do pecado que ela diz ter cometido e que a sociedade de então não lhe o permitiria.
A passagem do tempo sobre o desaparecimento de D. Sebastião e consequentemente sobre o desaparecimento de D. João parece desacreditar o mito sebastianista, o que profere uma certa contradição mitológica. Outro ponto negativo acerca das superstições é o facto do retrato de D. Manuel ter ardido, pois isto parece indicar a iminente destruição do próprio D. Manuel mas, com a amnistia dos governadores sobre o acto de D. Manuel, parece haver uma retomada de felicidade para toda a família de D. Manuel.
O sebastianismo, subjacente à peça, parece entrar em contradição com o próprio mito (tragédia / salvação), pois no prisma de Telmo (principalmente, numa fase inicial) e de Maria a concretização deste mito é desejada; enquanto que D. Madalena e D. Manuel, sendo o último um “português verdadeiro” e que deveria apoiar o sebastianismo, não pretendem ver o mito consumando, pois se este for concretizado a aliança entre eles não poderá existir e Maria será o fruto de um amor impossível e vista como ilegítima.
A analogia que se pode estabelecer entre os dois “filhos” de Telmo, Maria e D. João, é de drama pois um é a desgraça do outro e vice-versa.
João Martins
Na obra Frei Luís de Sousa verifica-se a renovação de temas desvalidos pelas obras de cultura clássica, pois, com o romantismo instauraram-se assuntos patrióticos com sensibilidade histórica e mitológica. O aparecimento do mito sebastianista e de outros presságios, nesta obra, reforçam o caracter romântico de Garrett e o interesse e atractivo no desenrolar deste drama, pois a contrariedade de sentimentos em relação ao aparecimento de D. Sebastião não é apreciado, na obra, de uma maneira uniforme e invariável.
Tendo em conta a época histórica da obra, o aparecimento de el-rei D. Sebastião seria algo benéfico para o reino, contudo não se verifica tal interesse na sensibilidade da maioria das personagens. É o caso de D. Madalena e de D. Manuel de Sousa Coutinho que preferem não acreditar no sebastianismo, pois se o fizerem admitem não só o regresso de D. Sebastião, mas ainda, o aparecimento do primeiro marido de Madalena, D. João de Portugal. Com a análise psicológica de Madalena comprova-se que esta tem vivido cheia de temores durante toda a sua vida amorosa, devido ao acidente que lhe adiantou o casamento com D. Manuel e ao facto de se ter apaixonado por este quando ainda era cônjuge de D. João, (este acto, na sua consideração, é admitido como pecado e crime).
As superstições e mitos, nesta peça, são fundamentais. As crenças, os sonhos e o interesse profético de Maria servem como advertência e aviso daquilo que se avizinha, fornecendo, ainda, amparo ao desconhecimento sobre a influência do passado na sua existência. Madalena, como forma de desacreditar as ideias da filha, convence Telmo a não lhe prestar nenhuma informação, pois Madalena, através do desenrolar de diversas quimeras, vê a ignorância dos factos a única maneira de se salvar a si e à sua filha, do pecado que ela diz ter cometido e que a sociedade de então não lhe o permitiria.
A passagem do tempo sobre o desaparecimento de D. Sebastião e consequentemente sobre o desaparecimento de D. João parece desacreditar o mito sebastianista, o que profere uma certa contradição mitológica. Outro ponto negativo acerca das superstições é o facto do retrato de D. Manuel ter ardido, pois isto parece indicar a iminente destruição do próprio D. Manuel mas, com a amnistia dos governadores sobre o acto de D. Manuel, parece haver uma retomada de felicidade para toda a família de D. Manuel.
O sebastianismo, subjacente à peça, parece entrar em contradição com o próprio mito (tragédia / salvação), pois no prisma de Telmo (principalmente, numa fase inicial) e de Maria a concretização deste mito é desejada; enquanto que D. Madalena e D. Manuel, sendo o último um “português verdadeiro” e que deveria apoiar o sebastianismo, não pretendem ver o mito consumando, pois se este for concretizado a aliança entre eles não poderá existir e Maria será o fruto de um amor impossível e vista como ilegítima.
A analogia que se pode estabelecer entre os dois “filhos” de Telmo, Maria e D. João, é de drama pois um é a desgraça do outro e vice-versa.
João Martins
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