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segunda-feira, 21 de maio de 2007

A Mensagem de Fernando Pessoa


Mensagem, uma aventura espiritual da Pátria

È com a obra Mensagem, que Fernando Pessoa adquire o grau de “Criador de Mitos”.
O poeta expressa poeticamente os mitos que os Descobrimentos tinham revelado como acção: “O mito é o nada que é tudo”. Através de uma formulação simbólica e mitológica, a Mensagem contem uma concepção que passa para além da História, uma realidade que passa para além das coordenadas do tempo. Transcreve-se a história de uma Nação de uma forma transfigurada. As personagens históricas transformam-se em mitos transformando-se numa outra realidade. Trata-se, pois, de um conjunto de antepassados que abrem caminho à realização de um ser colectivo. A obra pode ser vista como uma epopeia, porque parte de um núcleo histórico mas a sua formulação, sendo simbólica e mítica, não possuirá a continuidade do relato histórico. A acção dos heróis só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Sò terão direito à imortalidade aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos.
A estrutura da Mensagem , sendo a de um Mito, transfigura e repete a história de uma pátria como o mito de um nascimento, vida e morte dum mundo; à morte seguir-se-á um renascimento no sentido cósmico. Os antepassados, os fundadores, que pela sua acção criaram a pátria; as mães que estão na origem das dinastias cantadas como “antigo seio vigilante”, ou “humano ventre do Império”; os heróis navegantes que percorrem o mar em busca do caminho da imortalidade; os profetas, vozes que anunciam já aquele que viria regenerar essa pátria moribunda, todos estão presentes à espera que nasça o Quinto Império.
Fernando Pessoa vê os Descobrimentos como uma aventura iniciática. Toda a Mensagem aparece a partir desta intuição, motivações vindas dum consciente intangível. A obra surge assim como um dever, missão terrestre que, estando para além do homem,lhe concede por este caminho a sua verdadeira personalidade. Empossados de uma missão que os ultrapassa, surgem sempre esses construtores e heróis da nação, tal como o argonauta que faz frente e riposta ao Mostrengo:
“Aqui, ao leme, sou mais do que eu
Sou um povo que quer o mar que é teu”