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sábado, 17 de novembro de 2012

Sermão aos peixes - Padre Antonio Vieira

Introdução

O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil. O Sermão de Santo António aos Peixes constitui um documento da surpreendente imaginação, habilidade oratória e poder satírico do Padre António Vieira, que toma vários peixes (o roncador, o pegador, o voador e o polvo) como símbolos dos vícios daqueles colonos. Com uma construção literária e argumentativa notável, o sermão tem como objetivo louvar algumas virtudes humanas e, principalmente, censurar com severidade alguns vícios dos colonos. Este sermão foi pregado três dias antes de Padre António Vieira embarcar ocultamente para Portugal, onde pretendia obter uma legislação mais justa para os índios, prejudicando assim os interesses dos colonos europeus. Pode-se especular que a sua saída precipitada do Brasil se devia, pelo menos em parte, ao receio de represálias por parte dos colonos.

Estrutura externa do sermão

Exórdio - capítulo I - apresentação do tema que vai ser tratado no sermão, a partir do conceito predicável (vós sois o sal da terra) e das ideias a defender e que, geralmente, termina com uma breve oração, invocando a Virgem. Esta parte reveste-se de grande importância dado que é o primeiro passo para captar a atenção e benevolência dos ouvintes.

Exposição e confirmação - capítulos II a V - Retoma a explicitação do assunto, com uma breve explicação da organização do discurso; desenvolvimento e enumeração dos argumentos, contra-argumentos, seguidos de exemplos e/ou citações. A exposição situa-se desde o início do capítulo II até … Santo António abria a sua [boca] contra os que não se queriam lavar. , no capítulo III; e a confirmação começa a partir de Ah moradores do Maranhão, enquanto eu vos pudera agora dizer neste caso! e termina no final do capítulo V.

Peroração/epílogo - capítulo VI - conclusão do raciocínio com destaque para os argumentos mais importantes. Saliente-se que esta é a parte que a memória dos ouvintes melhor retém, pelo que deverá conter os aspetos principais desenvolvidos no sermão, de modo a deixar clara a mensagem veiculada e a levar os ouvintes a pôr em prática os seus ensinamentos.

Estrutura interna do sermão

Exórdio: o Padre António Vieira apresenta o conceito predicável, “Vós sois o sal da Terra” e explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta. Ou a culpa está no sal (pregadores), ou na terra (ouvintes). Se a culpa está no sal, é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem outra ou porque se pregam a si e não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina, ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os seus apetites e não os de Cristo.

Exposição e confirmação

Capítulo II - contempla os louvores aos peixes de carácter geral, que são os seguintes:

  • ouvem e não falam;
  • foram os primeiros seres que Deus criou (vós fostes os primeiros que Deus criou);
  • são melhores que os homens (e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os peixes);
  • existem em maior número (entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores);
  • revelam obediência (aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor);
  • revelam respeito e devoção (aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam.);
  • não se deixam domesticar (só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam)

Estas qualidades são, por antítese, os defeitos dos homens.

Capítulo III – contempla igualmente os louvores aos peixes, mas agora de carácter particular e apenas dos seguintes peixes:

do peixe de Tobias: cura a cegueira [(...) sendo o pai do Tobias cego, aplicando-lhe o filho aos olhos um pequeno do fel, cobrou inteiramente a vista] e seu coração expulsa os demónios [(...) tendo um demónio chamado Asmodeu morto sete maridos a Sara, casou com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa parte do coração, fugiu dali o demónio e nunca mais tornou];

da rémora: é pequena no corpo mas grande na força e no poder [“(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante.”; “Oh se houvera uma rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo!”; “(...) a virtude da rémora, a qual, pegada ao leme da nau, é freio da nau e leme do leme”];

do torpedo: faz descargas elétricas para se defender e, consequentemente, faz passar o bom e a virgindade do Espírito Santo (Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito? De maneira que, num momento, passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol, à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador);

do quatro-olhos: vê para cima e para baixo – dois olhos voltados para cima para vigiarem as aves e dois olhos voltados para baixo para vigiarem os peixes – e representa a capacidade de distinguir o bem do mal (céu/inferno) ["Esta é a pregação que me fez aquele peixezinho, ensinando-me que, se tenho fé e uso da razão, só devo olhar diretamente para cima, e só diretamente para baixo: para cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me que há Inferno"].

Todos estes louvores que Padre António Vieira faz aos peixes são antíteses aos defeitos dos homens, assim simbolizando os seus vícios.

Capítulo IV – repreensão dos peixes em geral:

  • comem-se uns aos outros [(...) é que vos comedes uns aos outros];
  • os peixes grandes comem os mais pequenos (não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos);
  • “se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande”.

Capítulo V – repreensão em particular

dos roncadores: embora tão pequenos, roncam bastante, simbolizando assim os arrogantes (É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?);

dos pegadores: sendo pequenos, pregam-se nos maiores, não os largando mais e simbolizando os oportunistas e os parasitas (Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhe pegam aos costados, que jamais os desferram);

dos voadores: sendo peixes, também se metem a ser aves, simbolizando os vaidosos [Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos metei a ser aves? (...) Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes];

dos polvos: tem uma aparência de santo e manso e um ar inofensivo, mas na essência é traiçoeiro, maldoso e hipócrita e faz-se de amigo dos outros e no fim, representando assim os traidores e os hipócritas “abraça-os” [E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar].

Peroração: o orador retoma os pregadores de que falava no conceito predicável, servindo-se dele próprio como exemplo alegando que não estava a cumprir a sua função. Alega também que ele (homens) e os peixes, nunca vão chegar ao sacrifício final, uma vez que os peixes já vão mortos e os homens vão mortos de espírito. Padre António Vieira diz que a irracionalidade, a inconsciência e o instinto dos peixes, são melhores do que a racionalidade, o livre arbítrio, a consciência, o entendimento e a vontade do homem.

Conclui-se assim, fazendo um apelo aos ouvintes e louvando-se a Deus, tornando esta última parte do sermão um pouco mais familiar, para que se estabeleça de novo a proximidade entre os ouvintes e o orador.

Recursos estilísticos predominantes

O Sermão de Santo António aos peixes é uma alegoria, na medida em que os peixes são a personificação dos homens. O Padre António Vieira toma como ponto de partida uma frase bíblica irrefutavelmente aplicável às condições políticas e sociais da sua época. A pessoa gramatical privilegiada é, obviamente, a segunda, visto que o seu objetivo é persuadir e contar com a adesão dos ouvintes.

Este sermão teve como ouvintes os colonos do Maranhão e tem grande coesão e coerência textual graças à utilização de recursos estilísticos, nomeadamente: a anadiplose, a antítese, a apóstrofe, a comparação, o paralelismo, a anáfora, a enumeração, a exclamação retórica, a gradação crescente, a interrogação retórica, a ironia, a metáfora, o paradoxo, o quiasmo e o trocadilho.

Conclusão

Em suma, o sermão seiscentista obedece à máxima ensinar, deleitar e mover, e o Sermão de Santo António aos Peixes, sendo um dos mesmos, também obedece à sua estrutura.

 

Sermão de Santo António aos Peixes


Sermão de Santo António aos Peixes - Resumo

01/10/2009

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O Sermão de Santo António aos Peixes, da autoria do Padre António Vieira, é, como sabes, uma obra literária do Barroco português.




Porquê o nome deste sermão dado por Padre António Vieira?

-Homenagem ao Sto. António (pregado no dia de Santo António)
-Segue o exemplo do sermão de Santo António (aos peixes)
-Tal como Sto. António tenta converter os hereges (expulsem os demónios dentro de si), também Padre António Vieira tenta fazer isso com os colonos portugueses no Brasil.

Objectivos:
-Pretende agitar as consciências (abrir os olhos), conduzir à reflexão.
-Pretende evitar o mal e preservar o bem (sal que tenta salgar)

Estrutura do Sermão de Santo António aos peixes

1. Exórdio - capítulo.I

Exórdio: Funcionalidade das perguntas retóricas, recursos expressivos, processo do distinguo e relevância das narrativas

A partir do conceito predicável "vós sois o sal da terra": "Santo António foi sal da terra e foi sal do mar."

A razão pela qual ele nos fala da corrupção no capitulo I (Exórdio) (e nós concordamos), é porque existem várias razões para tal.

Causas Responsáveis pela corrupção
Pregadores <> (conservar o bem)
Ouvintes <>
“Sal”à”Sal que não salga”
Falsa doutrina “ Não pregam a verdadeira doutrina”
“Terra”à “Terra não deixa salgar”
Recusa da verdadeira doutrina “ou não querem receber”
Palavras   = comportamento à”Dizem uma coisa e fazem outra”
Imitação de comportamentos incorrectos “imitar o que eles fazem”
Vaidade dos pregadores (“Se pregam a si”)
Egocentrismo, satisfação das vontades (“Servem a seus apetites”)

Síntese:
Neste capítulo, Padre António Vieira critica a humanidade, que está cada vez mais corrupta, e os pregadores, que havendo tantos, não conseguem alcançar os seus objectivos. Utiliza as expressões “sal” para os pregadores e “terra” para os ouvintos. Excepção para Santo António, de quem Padre António Vieira admira bastante e aborda a história sucedida por este em Arimino, onde prega aos hereges e é tentativa de apedrejamento por parte deste anti-cristos. 

2-Exposição-capitulo II

“Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam”à Ironia que crítica os Homens.

-Os peixes neste capitulo, metaforicamente, são os Índios.

Louvores em Geral dos peixes:
- "ouvem e não falam"
- "vós fostes os primeiros que Deus criou"
- "e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os peixes"
- "entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores"
- "aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor"
- "aquela ordem, quietação e atencão com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam."
-"só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam"

Síntese:
Padre António Vieira inicia a exposição com uma pergunta retórica “Que haveremos de pregar hoje aos peixes?” Depois indica a estrutura do sermão “dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios”. O resto do capitulo é abordado por António Vieira com as virtudes dos peixes, dizendo que eram queridos de Deus, se este não gostasse de peixes de peixes não tinha criado tantos, há muitos animais grandes, mas o maior é um peixe (Baleia)… Continuando com palavras características deles: quietos, atentos…

3-Louvores em Particular capitulo III(1º momento da confirmação)

Santo Peixe de Tobias

-Peixe bíblico: equivalente a pregador/função pregador
-Grande em tamanho e das virtudes interiores

Virtudes:
- o fel sara a cegueira "o fel era bom para curar da cegueira
- o coração lança fora os demónios; "o coração para lançar fora os demónios"

Virtudes em relação a Sto António:
-coração: bom coração
-fel: palavras amargas ditas por Sto António, tentando influenciar a audiência, dizendo que nada está bem, ou as atitudes destes.

Rémora

-Espécie Natural, com qualidade que seria útil aos homens
- Tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder;
-Tem uma espécie de ventosa (trava a ambição dos homens)

Virtudes:
-trava o leme das naus (barcos poderosos da época dos descobrimentos)

Virtudes em relação a Sto António:
-Palavras de Santo António, que pretendem travar os vícios.

Quatro naus abordadas:
-soberbaàvaidade
-vingançaàbatalha, artilharia apontada
-cobiça
-sensualidade

Torpedo

-Espécie Natural, com qualidade que seria útil aos homens
-Metaforicamente funciona como o aviso por parte de Sto António nas suas pregações 
-É um peixe modesto, não se exibe

Virtudes:
-faz tremer

Virtudes em relação a Sto António:
-Palavras de Santo António fazem tremer

Quatro Olhos

-Espécie natural, equivalente a pregador

- dois olhos voltados para cima para se vigiarem das aves;
- dois olhos voltados para baixo para se vigiarem dos peixes.

Virtudes:
-Está atento

Virtudes em relação a Sto António:
-O Santo está atento a todos os vícios e tentações

Louvores em particular:
Os quatro peixes, Santo peixe de Tobias, rémora, torpedo e quatro-olhos, possuem características que na sua totalidade se vêm a identificar com as principais características de Santo António.

Breve resumo do Sermão de Santo António


Sermão de Santo António pregado na cidade do Maranhão, no ano de 1654, no dia 13 de Junho, dia de Santo António, (Véspera da partida de Padre António Vieira para Lisboa). Nesta época, Portugal tinha recuperado a Independência e o Padre António Vieira vem a Lisboa, junto do rei para apoiar a criação de leis que acabassem com a exploração dos colonos brancos para com os índios brasileiros.
O sermão está organizado em seis capítulos e três partes: o Exórdio, que contém o capitulo I; a exposição e confirmação, que contém os capítulos II, III, IV e V e a peroração que contém o capitulo VI.

No Exórdio, Padre António Vieira apresenta o conceito predicável,“Vós sois o sal da Terra”, e explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta. Ou a culpa está no sal (pregadores), ou na terra (ouvintes). Se a culpa está no sal, é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem outra ou porque se pregam a si e não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina, ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os seus apetites e não os de Cristo.
Ao apresentar o conceito predicável, Padre António Vieira, introduz o tema do sermão, mas apesar de tudo desvia-se do tema e preocupa-se apenas com a razão pela qual a terra está corrupta, partindo do principio de que a culpa é dos ouvintes. Consegue isto, uma vez que o sermão é proferido no dia de santo António, aproveitando assim o exemplo deste. Santo António não obtinha resultados da sua pregação e os homens até o quiseram matar, em vez de desistir resolveu pregar aos peixes. Assim se viu Padre António Viera, sem obter resultados, a terra continuava corrupta, resolvendo igualmente pregar aos peixes, seguido o exemplo de Sto António.
Em primeira parte, o orador vai louvar as virtudes dos peixes e em seguida repreende-los.

capitulo II contempla os louvores aos peixes de carácter geral, recorrendo-se ao exemplo de Jonas para mostrar que os homens são muito piores que os peixes. Como suas qualidades temos:
- Bons ouvintes / obedientes
- Primeira criação de deus
- Melhores do que os homens
- Livres, puros, longe dos homens
Estas qualidades, são por antítese os defeitos dos homens.
Neste, como em todos os capítulos, há um exemplo prático de Sto António, para o louvar no seu dia.

capítulo III é igualmente de louvor aos peixes, mas agora de carácter particular. Padre António Vieira utiliza quatro peixes para mostras a relação entre o homem e o divino, como os peixes se dão a estes cuidados e os homens não pensam em tais coisas.
Peixe de Tobias: Tem umas entranhas e um coração que expulsam os demónios e simboliza o poder purificador da palavra de Deus.
Rémora: Peixe que quando se agarra e um navio tem força suficiente para o conduzir sozinha. Simboliza o poder da palavra do pregador – guia das almas.
Torpedo: Produz descargas eléctricas que faz tremer o braço do pecador. Simboliza o poder da palavra de Deus, de fazer tremer os pecadores que pescam na terra tudo quanto encontram.
Quatro – olhos: Tem dois pares de olhos, uns para cima e outros para baixo. Simboliza o dever dos cristãos em tirar os olhos da vaidade terrena, olhando para o céu sem esquecer o inferno.
Todos estes louvores que Padre António Vieira faz aos peixes são antíteses aos defeitos dos homens, assim simbolizando os seus vícios.

Seguidamente parte-se para as repreensões aos peixes, primeiramente de carácter geral (Cap. IV) e depois de carácter particular (Cap. V).
No carácter geral, Padre António Vieira acusa os peixes de se comerem uns aos outros, recorrendo a um exemplo dos homens para explicar o que eles faziam. Assim, os homens praticam antropofagia social, ou seja exploração uns dos outros. O orador faz uma comparação entre a antropofagia ritual dos Tapuias (índios brasileiros) e a antropofagia social dos homens, considerando esta ultima mais grave que a anterior, porque muitas vezes procuram tanto a exploração que nem os mortos escapam. O mais grave de tudo é que são os grandes que comem os pequenos, ou seja são precisos muitos pequenos para alimentar um grande. Acusa-os igualmente de cegueira, vaidade e de terem a maldade.
Estas repreensões são feitas com o objectivo de mudarem os homens, ou pelo menos fazê-los pensar, mesmo que não haja uma mudança rápida.
Aqui, há também um exemplo prático de Sto António que nunca praticou antropofagia social e que trocou a riqueza pela simpleza.

De carácter particular, Padre António Vieira usa quatro exemplos de peixes que se referem a tipos comportamentais. O roncador que simboliza os arrogantes, o pegador, que simboliza os oportunistas, o voador, que simboliza os ambiciosos e o pior de todos, o polvo, que simboliza o traidor e o hipócrita. Este último, tem uma aparência de santo e manso e um ar inofensivo, mas na essência é traiçoeiro e maldoso, é hipócrita e faz-se de amigo dos outros e no fim “abraça-os”. Neste capítulo são usados os exemplos de São Pedro, Sto Ambrósio, São Basílio e o Gigante Golias.

Por fim, a despedida, no capitulo VI, onde o orador retoma os pregadores de que falava no conceito predicável, servindo-se dele próprio como exemplo alegando que não estava a cumprir a sua função. Alega também que ele (homens) e os peixes, nunca vão chegar ao sacrifício final, uma vez que os peixes já vão mortos e os homens vão mortos de espírito. Padre António Vieira diz que a irracionalidade, a inconsciência e o instinto dos peixes, são melhores do que a racionalidade, o livre arbítrio, a consciência, o entendimento e a vontade do homem.

Conclui-se assim, fazendo um apelo aos ouvintes e louvando-se a Deus, tornando esta última parte do sermão um pouco mais familiar, para que se estabeleça de novo a proximidade entre os ouvintes e o orador.
Este sermão teve como ouvintes os colonos do Maranhão e tem grande coesão e coerência textual graças á utilização de recursos estilísticos, articuladores do discurso e argumentos de autoridade e analógicos para validar e confirmar os testemunhos narrados. Todo o sermão é alegórico, uma vez que são utilizados os peixes como figuras concretas para a crítica aos homens.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O Sermão de Santo António aos Peixes


Capítulo I

Exórdio ou Introdução: exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender.
Conceito Predicável: texto bíblico que serve de tema e que irá ser desenvolvido de acordo com a intenção e o objectivo do autor "Vos estis sal terrae".
Invocação: pedido de auxílio divino .
As simetrias evidenciam e são um exemplo da estruturação do sermão um exercício mental da grande lógica, que permitem aos ouvintes atingirem mais facilmente o objectivo da mensagem nas respostas à justificação do facto de a terra estar corrompida e na resposta ao que se há-de fazer ao sal que não salga e à terra que se não deixa salgar.
Para atingir a inteligência dos ouvintes, o orador usa argumentos lógicos, sucessivas interrogações retóricas e a autoridade dos exemplos de Cristo, Santo António e da Bíblia. Para atingir o coração dos ouvintes, usa interjeições e exclamações.
Ao relatar o que fez Santo António quando foi perseguido em Arimino usa frases curtas (Deixa as praças, vai-se às praias…), ritmo binário, anáforas, enumeração.
É evidente que os tipos de frase têm relação directa com a entoação. A frase interrogativa termina num tom mais alto, a declarativa num tom mais baixo, etc.
O titulo do Sermão foi retirado do milagre ou lenda que se conta a respeito de Santo António. Este terá sido mal recebido numa pregação em Arimino, mesmo perseguido, e ter-se-á dirigido à praia e pregado o sermão aos peixes que o terão escutado atentamente, contrastando com os homens.
O pregador invocou Nossa Senhora porque era habitual fazê-lo e ainda porque o nome Maria quer dizer Senhora do mar; os ouvintes do sermão eram pescadores que A invocavam na faina da pesca.

Capítulo II

O sermão é uma alegoria porque os peixes são metáfora dos homens, as suas virtudes são por contraste metáfora dos defeitos dos homens e os seus vícios são directamente metáfora dos vícios dos homens. 0 pregador fala aos peixes, mas quem escuta são os homens.
Os peixes ouvem e não falam. Os homens falam muito e ouvem pouco.
O pregador argumenta de forma muito lógica. Partindo de duas propriedades do sal, divide o sermão em duas partes: o sal conserva o são, o pregador louva as virtudes dos peixes; o sal preserva da corrupção, o pregador repreende os vícios dos peixes. Para que fique claro que todo o sermão é uma alegoria, o pregador refere frequentemente os homens. Utiliza articuladores do discurso (assim, pois…), interrogações retóricas, anáforas, gradações crescentes, antíteses, etc. Demonstra as afirmações que faz tirando partido do contraste entre o bem e o mal, referindo palavras de S. Basílio, de Cristo, de Moisés, de Aristóteles e de St. Ambrósio, todas referidas aos louvores dos peixes. Confirma-as com vários exemplos: o dilúvio, o de Santo António, o de Jonas e o dos animais que se domesticam.


Virtudes que dependem sobretudo de Deus
             Virtudes naturais dos peixes
• foram as primeiras criaturas criadas por Deus
• não se domam.
• foram as primeiras criaturas nomeadas pelo homem
• não se domesticam.
• são os mais numerosos e os maiores
• escaparam todos do dilúvio porque não tinham pecado
• obediência, quietação, atenção, respeito e devoção com que ouviram a pregação de Santo António



Evidencia-se que os animais que convivem com os homens foram castigados, estão domados e domesticados, sem liberdade.


Animais que se domesticam        Animais que vivem presos
cavalo, boi, bugio, leões, tigres, aves que se criam e vivem com os homens, papagaio, rouxinol, açor, aves de rapina  rouxinol, papagaio, açor, bugio, cão,     boi, cavalo, tigres e leões

 O discurso é pregado; por isso, envolve toda a pessoa do orador. Os gestos, a mímica, a posição do corpo - a linguagem não verbal - têm um lugar importante porque completam a mensagem transmitida.

Alguns Recursos de Estilo

·     A antítese Céu/lnferno, que repete semanticamente a antítese bem/mal, está ligada quer à divisão do Sermão em duas partes, quer às duas finalidades globais do mesmo.
·         A apóstrofe refere directamente o destinatário da mensagem e do pregador, aproximando os dois pólos da comunicação: emissor e receptor.
·         A interrogação retórica como meio de convencer os ouvintes.
·         A personificação dos peixes associada à apóstrofe e às atitudes dos mesmos.
·         A gradação crescente na enumeração dos animais que vivem próximos dos homens mas presos.
·         A comparação, "como peixes na água", tem o carácter de um provérbio que significa viver livremente.


Capítulo III


Peixe de Tobias
Rémora
Torpedo
Quatro-Olhos
Efeitos
• sarou a cegueira do pai de Tobias
 • pega-se ao leme de uma nau
• faz tremer o braço do pescador
• defende-se dos peixes
• lançou fora os demónios
• prende a nau e amarra-a
• não permite pescar
• defende-se das aves
Comparação
Peixe de Tobias
Rémora
Torpedo
Quatro-Olhos
Santo António
Santo António
Santo António
o pregador
• alumiava e curava as cegueiras dos ouvintes
A língua de S. António domou a fúria das paixões humanas: Soberba, Vingança, Cobiça, Sensualidade
• 22 pescadores tremeram ouvindo as palavras de Santo António e converteram-se
• o peixe ensinou o pregador a olhar para o Céu (para cima) e para o Inferno (para baixo)
• lançava os demónios fora de casa

 O pregador usa o imperativo verbal, a repetição anafórica, a exclamação, a apóstrofe, a leve ironia ("Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes!").
A língua de Santo António teve a força de dominar as paixões humanas, guiando a razão pelos caminhos do bem; foi o freio do cavalo porque impediu tantas pessoas de caírem nas mais variadas desgraças.
Santo António foi muito humilde, aceitando sem revolta o abandono a que foi votado por todos, ele que conhecia a sua sabedoria. O pregador pretende condenar os homens que possuem vícios opostos às virtudes dos peixes.
Recursos estilísticos:
Anáforas: Ah homens… Ah moradores… Quantos, correndo… Quantos, embarcados… Quantos, navegando… Quantos na nau… A interjeição visa atingir o coração dos ouvintes; a repetição do pronome indefinido realiza uma enumeração.
Gradações: Nau Soberba, Nau Vingança, Nau Cobiça, Nau Sensualidade; "passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador." O sentido é sempre uma intensificação para mais ou para menos.
Antíteses: mar/terra, para cima/para baixo, Céu/Inferno. Palavras de sentido oposto indicam as duas direcções do sermão: peixes - homens, bem - mal.
Comparações: "… parecia um retrato maritimo de Santo António"; o peixe de Tobias, com um burel e uma corda, era uma espécie de Santo António do mar: as suas virtudes eram como as de Santo António. "… unidos como os dois vidros de um relógio de areia,": o peixe Quatro-Olhos possuía grande visão e precisão.
Metáforas: "… águias, que são os linces do ar; os linces, que são as águias da terra": sentido de rapidez e de visão excepcional.

Vocabulário essencial:




• substantivos
• velas, vento
• artilharia, bota-fogos
• gáveas
• cerração
• adjectivos
• inchadas
• abocada, acesos
• sobrecarregada, aberta
• enganados
• verbos
• desfazer, rebentavam
• corriam, queimariam
• incapaz de fugir
• perder
  • Efeitos do poder da língua de S. António
  • mão no leme
a sua língua detém a fúria
a sua língua detêm a cobiça
a sua língua contêm-nos
  • Finalidade das interrogações
  • Convencer os ouvintes



 

Capítulo IV

Para comprovar a tese de que os homens se comem uns aos outros, o orador usa uma lógica implacável, apelando para os conhecimentos dos ouvintes e dando exemplos concretos. Os seus ouvintes sabiam a verdade do que ele afirmava, pois conheciam que os peixes se comem uns aos outros, os maiores comem os mais pequenos. Além disso, cita frequentemente a Sagrada Escritura, em que se apoia. Lendo hoje este capitulo, assim como todo o Sermão, não se pode ficar indiferente à lógica da argumentação.
As conclusões são implacáveis, pois são fruto claríssimo dos argumentos usados.
O ritmo é variado: lento, rápido e muito rápido. Quando as frases são longas, o ritmo é repousado; quando as frases são curtas, quando se usam sucessivas anáforas nessas frases, o ritmo torna-se vivo, como acontece no exemplo do defunto e do réu. O discurso deste sermão, como doutros, é semelhante ao ondular das águas do mar: revoltas e vivas, espraiam-se depois pela areia como que espreguiçando-se. Uma das características maravilhosas do discurso de Vieira é a mudança de ritmo, que prende facilmente os ouvintes.
A repetição da forma verbal "vedes", que deverá ser acompanhada de um gesto expressivo, serve para criar na mente dos ouvintes (e dos leitores) um forte visualismo do espectáculo descrito.
O uso dos deícticos demonstrativos tem por objectivo localizar os actos referidos, levando os ouvintes a revê-los nos espaços onde acontecem. A substantivação do infinitivo verbal está também ao serviço do visualismo. O verbo deixa de indicar acção limitada para se transformar numa situação alargada.
Há uma passagem semelhante no momento em que o orador refere a necessidade de o bem comum prevalecer sobre o apetite particular: "Não vedes que contra vós se emalham…".
O orador expõe a repreensão e depois comprova-a como fez com a primeira repreensão: dá o exemplo dos peixes que caem tão facilmente no engodo da isca, passa em seguida para o exemplo dos homens que enganam facilmente os indígenas e para a facilidade com que estes se deixam enganar. A crítica à exploração dos negros é cerrada e implacável. Conclui, respondendo à interrogação que fez, afirmando que os peixes são muito cegos e ignorantes e apresenta, em contraste, o exemplo de Santo António, que nunca se deixou enganar pela vaidade do mundo, fazendo-se pobre e simples, e assim pescou muitos para salvação.

Capítulo V

Peixes

Defeitos

Argumentos

Exemplos de homens

Os Roncadores

soberba

pequenos mas muita língua; facilmente pescados

Pedro

orgulho

os peixes grandes têm pouca língua

Golias

 

muita arrogância, pouca firmeza

Caifás

 

 

Pilatos

Os Pegadores

parasitismo

vivem na dependência dos grandes, morrem com eles

Toda a família da corte de Herodes

os grandes morrem porque comeram, os pequenos morrem sem terem comido

Adão e Eva

Os Voadores

presunção

foram criados peixes e não aves

Simão mago

ambição

são pescados como peixes e caçados como aves

 

morrem queimados

O Polvo

traição

ataca sempre de emboscada porque se disfarça

Judas

Comparação entre os peixes e Santo António

Peixes
Santo António
Os Roncadores: soberbos e orgulhosos, facilmente pescados
tendo tanto saber e tanto poder, não se orgulhou disso, antes se calou. Não foi abatido, mas a sua voz ficou para sempre
Os Pegadores: parasitas, aduladores, pescados com os grandes
pegou-se com Cristo a Deus e tornou-se imortal
Os Voadores: ambiciosos e presunçosos
tnha duas asas: a sabedoria natural e a sabedoria sobrenatural. Não as usou por ambição; foi considerado leigo e sem ciência, mas tornou-se sábio para sempre
O Polvo: traidor
Foi o maior exemplo da candura, da sinceridade e verdade, onde nunca houve mentira

Episódio do Polvo

Divisão em partes:

  • Introdução: a aparência do polvo "O polvo… mansidão" (ll.177-179).
  • Desenvolvimento: a realidade "E debaixo… pedra" (ll.179-187).
  • Conclusão: a consequência "E daqui… fá-lo prisioneiro" (ll.187-189).
  • Comparação: "Fizera… traidor" (ll.190-196).
A expressão "aparência tão modesta" traduz a aparente simplicidade e inocência do polvo, que encobre uma terrível realidade. O orador usa a ironia. A expressão "hipocrisia tão santa" contém em si um paradoxo: a hipocrisia nunca é santa; de novo, o orador usa uma fina e penetrante ironia: o polvo apresenta um ar de santo, mas encobre uma cruel realidade. Tem a máscara (que é o que quer dizer em grego hipócrita), o fingimento de inofensivo.
O mimetismo é o que o polvo usa para enganar: faz-se da cor do local ou dos objectos onde se instala.
No camaleão, o mimetismo é um artifício de defesa contra os agressores, no polvo é um artifício para atacar os peixes desacautelados.
O orador refere a lenda de Proteu para contrapor o mito à realidade: Proteu metamorfoseava-se para se defender de quem o perseguia; o polvo, ao contrário, usa essa qualidade para atacar.
Os deícticos demonstrativos implicam a linguagem gestual e têm por intenção criar o visualismo na mente dos ouvintes (leitores). A anáfora, repetição da mesma palavra em início de frase, insiste no mesmo visualismo.
Os verbos que se referem ao polvo estão no presente do indicativo, traduzindo uma realidade permanente e imutável; a forma "vai passando" gerúndio perifrástico, acentua a forma despreocupada dos outros peixes que lentamente passam pelo local onde se encontra o traidor; os verbos que se referem a Judas estão no pretérito perfeito do indicativo porque referem acções do passado. Há ainda o imperativo "Vê", que traduz uma interpelação directa ao polvo, tornando o discurso mais vivo.
O polvo nunca ataca frontalmente, mas sempre à traição: primeiro, cria um engano, que consiste em fazer-se das cores onde se encontra; depois, ataca os inocentes.
O texto deste capítulo segue a variedade de ritmos dos outros capítulos e apresenta os mesmos recursos para conseguir tal objectivo. Basta atentar no parágrafo que começa por "Rodeia a nau o tubarão… " e no texto referente ao polvo.
Elemento comum entre Judas e o polvo: a traição. Ambos foram vítimas deste defeito.
Elementos diferentes entre Judas e o polvo: Judas apenas abraçou Cristo, outros o prenderam; o polvo abraça e prende. Judas atraiçoou Cristo à luz das lanternas; o polvo escurece-se, roubando a luz para que os outros peixes não vejam as suas cores. A traição de Judas é de grau inferior à do polvo.

 

Animais/Peixes
Peixes
Homens
foram escolhidos para os sacrifícios

estes podiam ir vivos para os sacrifícios

ofereçam a Deus o ser sacrificado

ofereçam a Deus o sangue e a vida
não foram escolhidos para os sacrifícios

só poderiam ir mortos. Deus não quer que Lhe ofereçam coisa morta

ofereçam a Deus não ser sacrificados

ofereçam a Deus o respeito e a obediência
os homens também chegam mortos ao altar porque vão em pecado mortal. Assim, Deus não os quer.

 

 

Capítulo VI

Peroração: conclusão com a utilização de um desfecho forte, capaz de impressionar o auditório e levá-lo a pôr em prática os ensinamentos do pregador.
O orador quer que os homens imitem os peixes, isto é, guardem respeito e obediência a Deus. Numa palavra, pretende que os homens se convertam (metanóia).
As interrogações têm por objectivo atingirem preferencialmente a inteligência, enquanto as exclamações visam mais o sentimento dos ouvintes. As repetições põem em realce o paralelismo entre o orador e os peixes; as gradações intensificam um sentido.
A repetição do som /ai/ (11 vezes) cria uma atmosfera sonora cada vez mais intensa e optimista; a repetição das palavras "Louvai" e "Deus" apontam para a finalidade global do sermão: o louvor de Deus, que todos devem prestar. O verbo no imperativo realiza a função apelativa da linguagem: depois de ter inventariado os louvores e os defeitos dos peixes/homens, não poderia deixar de apelar aos ouvintes para que louvem a Deus. A escolha do hino Benedicite cumpre fielmente esse objectivo, encerrando o Sermão com um tom festivo, adequado à comemoração de Santo António, cuja festa se celebrava. A palavra Ámen significa "Assim seja", "que todos louvem a Deus". O quiasmo realizado na colocação em ordem inversa das palavras glória e graça sugere a transposição dos peixes para os homens: já que os peixes não são capazes de nenhuma dessas virtudes, sejam-no os homens. Sugere também uma mudança: a conversão (metanóia), porque só em graça os homens podem dar glória a Deus.