terça-feira, 8 de abril de 2008

Acordo ortográfico

A discussão sobre a oportunidade e validade do Acordo Ortográfico tem posto em evidência que ninguém é dono da língua, pelo que não haverá nenhum acordo que impeça evoluções desencontradas.O conceito que tem circulado em algumas das intervenções, e que parece ajustado à natureza das coisas, é o que sustenta que a língua não é apenas nossa, também é nossa.É por isso que acordos, declarações, tratados, são certamente adjuvantes de uma política que mantenha a identidade essencial, mas nenhum terá força vinculativa suficiente para evitar que as divergências surjam pelas tão diferentes latitudes em que a língua portuguesa foi instrumento da soberania, da evangelização, do comércio.Existem locais onde os factos tornaram evidente que a língua não resiste à falta de utilidade para os povos que estiverem abrangidos por qualquer daquelas actividades, e por isso o português sofre dessa erosão no longínquo Oriente do primeiro império, tem marcas pequenas em Macau, luta com o passado apagador da língua pela ocupação de Timor pelo invasor e também com os interesses da Austrália pela expansão da língua inglesa, vai enfraquecendo em Goa.O critério da utilidade para os povos talvez por isso não seja dispensável no discurso dos procedimentos a adoptar para que o essencial seja uma preocupação e empenho constante dos governos que têm a língua portuguesa como língua oficial, cada um sabendo que não é sua, é apenas também sua.Muito recentemente a ONU deu um sinal importante do interesse, com ligação ao número de países que, tendo assento no plenário da Assembleia Geral, falam português.No mês de Março, segundo foi anunciado, o sítio Web Know - Your Rights 2008.org seria tornado mais acessível a pessoas do mundo inteiro, e para isso utilizando oito línguas.Tais línguas são inglês, francês, italiano, espanhol, alemão, português, holandês e grego.Esta decisão destina-se a apoiar mais de uma dezena de projectos para os quais se pede e espera a intervenção dos parceiros da organização, governos, parlamentos, ONG, e entidades particulares que aderiram em nome e proveito da sociedade civil transnacional em crescimento.O interesse comum é muito mais dinamizador de iniciativas e práticas do que a obrigatoriedade assumida por tratados cuja debilidade directiva é logo evidenciada pelo método da entrada em vigor.Talvez a maleabilidade das Declarações, que estão a ganhar relevo crescente nas relações internacionais, seja mais indicada para servir de apoio directivo a uma política persistente de identificação e defesa do interesse comum, do que a natureza imperativa dos tratados.O ensino e a investigação, no espaço europeu em definição política acelerada, estão apoiados em Declarações que presidem ao desenvolvimento de redes cada vez mais sólidas, e não em tratados.Foi esta consideração que inspirou a criação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, em grande parte devido à percepção do Presidente José Sarney, atento às intervenções e discussões dessa matéria.Tinha presente que a responsabilidade pela língua incumbia à Academia Brasileira de Letras, tal como em Portugal incumbe à Academia das Ciências.Mas não faltaram observações de experientes das relações internacionais, e certamente nem todos com a mesma vivência das academias, no sentido de que os novos Estados de língua oficial portuguesa, que também deveram ao brasileiro embaixador Aparecido de Oliveira a criação da CPLP, não tinham nem a tradição, nem as vocações e recursos que os levassem a adoptar tal modelo.O Instituto Internacional da Língua Portuguesa foi criado como centro de encontro entre iguais, para, identificando os interesses comuns, convergirem nas políticas destinadas a servir esses interesses, salvaguardando o instrumento insubstituível que é a língua.Não parece ter acontecido que a inspiração do Instituto Internacional da Língua Portuguesa tenha sido revisitada, mas também não parece que o critério que orientou a sua criação deva ser ignorado.

1 comentário:

Fabio Silva disse...

Sou estudante terminal do 12º ano da escolaridade vigente em Portugal e, infelizmente podemos assegurar que a verdade é que o ensino por cá ainda precisa de uma reforma que se possa escrever com todas as sete letras que compõem a palavra. Desde de desenvolver um "website" no âmbito de Área de Projecto no qual por servir de plataforma integradora dos restantes trabalhos da turma sou obrigado a censurar a censura da professora, porque até o português não chega em condições de ser publicado, até o ser ameaçado de penalizações na nota se não perder um dia numa visita de estudo numa área de interesse de outro grupo que não o meu estando repleto de testes nos dias seguintes,... Eu nunca fui um aluno brilhante sempre gostei de escrever e sempre escrevi mal, mas gosto tanto da minha língua como ela é, adquiro dicionários gramáticas guias, invisto em mim é a minha cara na minha língua, e após 12 anos de estudo desta aprovam um decreto "xpto" em que essa língua assina o seu declínio se humilha perante derivadas, a evolução da língua acontece pelo uso desta não por decretos se uma região desenvolveu o português para o caminho "omega" deixá-la concordo perfeitamente isso é cultura isso é diversificação, agora uniformização? Já agora uniformizem o português com o Inglês, com o francês afinal não são assim tão distantes nas suas origens decerto estes doutorados encontrariam pontos aprasiveis de uniformizar. Não me roubem a língua que me acolheu, não caiam nas no enquanto das próprias aspirações, deixem a evolução acontecer dêem uma oportunidade à civilização, sempre ouve diversas línguas nunca foram uniformizadas agora querem uniformizar uma tão preciosa pela ilusão da eficiência. Enfim.. é tarde e todo este assunto só me trás frustração, peço desculpa pelo que acabou por ser um desabafo extenso talvez até demais. Comprimentos. Continue o seu bom trabalho.