terça-feira, 12 de junho de 2007

Eugénio de Andrade


Biografia Breve

1923 - a 19 de Janeiro, nasce na Póvoa de Atalaia, Eugénio de Andrade, nome civil José Fontinhas. Inicia aí mesmo os seus estudos primários que prossegue em Castelo Branco.

1932 - com sua mãe, figura titular e poética da sua vida, migra para Lisboa.

1933 - estuda no Liceu Passos Manuel e inscreve-se, depois, na Escola Técnica Machado de Castro pensando seguir Engenharia, que viria a abandonar.

1939 - incentivado por António Botto, que conhecera anteriormente, publica o poema “Narciso” que ainda assina com o nome civil e que mais tarde repudia.

1942 - publica Adolescente, o seu livro de estreia, dedicado a Pessoa que também virá a repudiar e que apenas retirará alguns textos depois publicados em Primeiros Poemas.

1943 - instala-se com sua mãe nos arredores de Coimbra. Conhece Afonso Duarte, Miguel Torga, Carlos de Oliveira e Eduardo Lourenço.

1944 - é incorporado no serviço militar onde, após a recruta, é colocado nos serviços de saúde de Lisboa e depois em Coimbra.

1945 - publica Pureza que terá o mesmo destino de Adolescente .

1947 - é admitido nos Serviços Médicos-Sociais, nos quais se manterá em funções como inspector, até 1983. Conhece Sophia de Mello Breyner Andresen.

1949 - torna-se amigo de Mário Cesariny e priva com o grupo de surrealistas, movimento que poucas marcas deixará na sua poesia.

1950 - publica Os Amantes Sem Dinheiro . Muda-se para o Porto. Em 1951 publica Palavras Interditas . Conhece Pascoaes. Em Madrid, priva com Vicente Aleixandre e Ángel Crespo.

1956 - morre sua mãe. Publica Até Amanhã ilustrado com originais de Jean Cocteau.1957 - publica Coração do Dia . Conhece Luís Cernuda, cujas cartas a Eugénio foram mais tarde publicadas em Espanha. Jorge de Sena, seu amigo desde o inicio da década, inclui-o nas suas Líricas Portuguesas .

1960 - conhece Marguerite Yourcenar com quem se corresponderá. Lopes-Graça edita em disco as suas composições para os poemas de As Mãos e os Frutos .

1964 - publica Ostinato Rigore , que ele próprio considera, a par do posterior Branco no Branco um dos seus melhores livros.

1968 - publica Os Afluentes do Silêncio , prosa, e Daqui Houve Nome Portugal uma monumental antologia de verso e prosa sobre o Porto.

1969 - traduz as Cartas Portuguesas atribuídas a Mariana Alcoforado.

1971 - publica Obscuro Domínio e mais uma antologia Memórias de Alegria dedicada a Coimbra. É lançado, ainda, 21 Ensaios sobre Eugénio de Andrade .

1972 - publica a antologia de poesia erótica Variações Sobre Um Corpo , uma recolha da sua própria poesia Antologia Breve e o volume Versos e Alguma Prosa de Luís de Camões . Uma das reedições da sua escolha de Camões iria ultrapassar, logo após o 25 de Abril, todos os recordes de tiragens.

1974 - publica Escrita da Terra com títulos como Monfortinho, Castelo Branco, Póvoa de Atalaia e numa 3ª edição Campos de Atalaia

1976 - publica Limiar dos Pássaros e a sua primeira obra de literatura infanto-juvenil História da Égua Branca .

1981 - primeiro encontro com Jorge Luís Borges. Óscar Lopes edita um volume dedicado à poesia de Eugénio Uma Espécie de Música .

1982 - publica O Peso da Sombra . Recebe o grau de Grande Oficial de Ordem Militar de Sant'Iago de Espada.

1983 - é nomeado para a Academie Mallarmé de Paris.

1984 - Branco no Branco , editado em este ano, recebe o Prémio de Poesia Pen Club.

1985 - a C. M. do Porto concede-lhe a Medalha de Méritos da Cidade e no ano seguinte recebe o prémio da Assoc. Internacional dos Críticos Literários.

1987 - edita Vertentes do Olhar que recebe o Prémio Dom Dinis.

1988 - publica O Outro Nome da Terra obtendo o primeiro Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores. É homenageado com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito.

1989 - a tradução francesa de Branco no Branco vale-lhe o Prémio Jean Malrieu para o melhor livro de poesia estrangeira editado em França.

1991 - um grupo de amigos decide criar a Fundação Eugénio de Andrade e publica, já com a chancela da fundação, o livro Rente a Dizer . Os seus 50 anos de trabalho literário são comemorados.

1994 - publica Oficio da Paciência . Muda-se para a casa da Fundação Eugénio de Andrade, um ano mais tarde publica O Sal da Língua e a Fundação abre finalmente ao público.

1996 - recebe o Prémio Europeu de Poesia da Comunidade de Varchatz.

2000 - é-lhe atribuído o Prémio Extremadura de criação literária, o Prémio Celso Emílio Ferreiro e o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e no ano seguinte recebe o Prémio Camões.

2002 - recebe o Prémio de Poesia Pen Club com o Os Sulcos da Sede editado no ano anterior.

Vergílio Ferreira- Bibliografia Breve









1916 - Vergílio Ferreira nasce em Melo, concelho de Gouveia, na Serra da Estrela.
1926 - Entra para o Seminário do Fundão.
1932 - Estuda no Liceu da Guarda onde conclui o curso liceal.
1936 - Vai para Coimbra, como aluno da Faculdade de Letras. Escreve as primeiras poesias. 1940 - Licencia-se em Filologia Clássica.
1942 - Lecciona no liceu de Faro.
1943 - Publica O Caminho Fica Longe , romance.
1944 - Lecciona no liceu de Bragança.
1945 - Ingressa no Liceu de Évora, onde leccionará durante 14 anos.
1946 - Casa com Regina Kasprzykowsky. Publica Vagão «J», romance.
1949 - Publica Mudança , romance.
1953 - Publica A Face Sangrenta , colectânea de contos e Manhã Submersa, romance.
1959 - Ingressa no Liceu Camões, em Lisboa. Publica Aparição , romance galardoado no ano seguinte com o «Prémio Camilo Castelo-Branco», da Sociedade Portuguesa de Escritores. Publica Cântico Final , romance.
1965 - Publica Alegria Breve , romance galardoado com o «Prémio da Casa da Imprensa».
1971 - Publica Nítido Nulo , romance.
1976 - Publica os Contos.
1979 - Publica Signo Sinal , romance.
1980 - Lauro António realiza a longa--metragem Manhã Submersa , onde Vergílio Ferreira desempenha o papel de Reitor.
1981 - Jubila-se de professor do ensino secundário.

1983 - Recebe os Prémios do Pen Club, daAssociação Internacional dos Críticos Literários, do Município de Lisboa e o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus. Publica Para Sempre , romance.
1984 - É eleito sócio da Academia Brasileira de Letras.
1986 - É homenageado em Gouveia, seu concelho natal. É dado o seu nome à Biblioteca Municipal.
1987 - Publica Até ao Fim, romance.
1988 - Recebe o «Grande Prémio do Romance e da Novela» da Associação Portuguesa de Escritores pelo romance Até ao Fim .
1990 - Recebe o prémio «Fémina» com «Matin Perdu», tradução francesa de Manhã Submersa. Publica Em Nome da Terra , romance.
1991 - Recebe, em Bruxelas, o «Prémio Europália» pelo conjunto da sua obra literária.
1992 - É eleito para a Academia das Ciências de Lisboa. Recebe o «Prémio Camões».
1993 - Realização do «Colóquio sobre Vergílio Ferreira», em homenagem aos seus 50 anos de actividade literária, na Faculdade de Letras do Porto. Torna-se Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
1995 - 10 de Setembro - Inaugura a Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira em Gouveia, à qual doa a sua biblioteca particular.
1996 - 1 de Março - Morre em Lisboa. Está sepultado em Melo «virado para a Serra», como foi seu desejo. É editada a obra inacabada Cartas a Sandra.



Uma voz canta não sei onde.
Ergue-se sobre o silêncio da terra.
[…] É a voz da escuridão e das raízes.

Para Sempre
Uma aldeia perdida num recanto de montanha – a Serra da Estrela.


É uma paisagem familiar, que Vergílio Ferreira conheceu na sua infância e a ela constantemente regressa, descrevendo-a nos seus livros. A casa de família, onde escreveu algumas das sua obras. A paz da aldeia natal, no seu ritmo sereno. A coragem e resignação das suas gentes, os seus cantos de trabalho, as suas preces, as suas festas e tradições. E a montanha, o seu silêncio e solidão, o seu encantamento e mistério. Imensa massa de duro granito, ora coberta de neve, ora vestida de verde, ora estalando ao sol. Recortada contra o azul intenso de um céu de Verão ou emersa nos nevoeiros de Inverno. Topo do mundo, de onde se abarcam horizontes sem fim. Repleta de cores e cheiros da urze, das giestas e pinhais. Percorrida pelo balido das ovelhas, o marulhar das águas livres das ribeiras, o rugido do vento, o som imperceptível da neve a cair... Foi esse o ambiente que formou a sensibilidade do Escritor, a sua forma de viver e sentir, a sua maneira de estar no mundo. É esse o ambiente que tentamos desvendar, e convidamos a descobrir, na presente exposição.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Sophia de Mello Breyner Andresen




Nascimento:1919 Porto






Poetisa e contista portuguesa, nasceu no Porto, no seio de uma família aristocrática, e aí viveu até aos dez anos, altura em que se mudou para Lisboa. De origem dinamarquesa por parte do pai, a sua educação decorreu num ambiente católico e culturalmente privilegiado que influenciou a sua personalidade. Frequentou o curso de Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em consonância com o seu fascínio pelo mundo grego (que a levou igualmente a viajar pela Grécia e por toda a região mediterrânica), não tendo todavia chegado a concluí-lo. Teve uma intervenção política empenhada, opondo-se ao regime salazarista (foi co-fundadora da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos) e também, após o 25 de Abril, como deputada. Presidiu ao Centro Nacional de Cultura e à Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Escritores. O ambiente da sua infância reflecte-se em imagens e ambientes presentes na sua obra, sobretudo nos livros para crianças. Os verões passados na praia da Granja e os jardins da casa da família ressurgem em evocações do mar ou de espaços de paz e amplitude. A civilização grega é igualmente uma presença recorrente nos versos de Sophia, através da sua crença profunda na união entre os deuses e a natureza, tal como outra dimensão da religiosidade, provinda da tradição bíblica e cristã. A sua actividade literária (e política) pautou-se sempre pelas ideias de justiça, liberdade e integridade moral. A depuração, o equilíbrio e a limpidez da linguagem poética, a presença constante da Natureza, a atenção permanente aos problemas e à tragicidade da vida humana são reflexo de uma formação clássica, com leituras, por exemplo, de Homero, durante a juventude. Colaborou nas revistas Cadernos de Poesia (1940), Távola Redonda (1950) e Árvore (1951) e conviveu com nomes da literatura como Miguel Torga, Ruy Cinatti e Jorge de Sena. Na lírica, estreou-se com Poesia (1944), a que se seguiram Dia do Mar (1947), Coral (1950), No Tempo Dividido (1954), Mar Novo (1958), O Cristo Cigano (1961), Livro Sexto (1962, Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores), Geografia (1967), Dual (1972), O Nome das Coisas (1977, Prémio Teixeira de Pascoaes), Navegações (1977-82) e Ilhas (1989). Este último voltou a ser publicado em 1996, numa edição de poemas escolhidos acompanhada de fotografias de Daniel Blaufuks. Em 1968, foi publicada uma Antologia e, entre 1990 e 1992, surgiram três volumes da sua Obra Poética. Seguiram-se os títulos Musa (1994) e O Búzio de Cós (1997). Colaborou ainda com Júlio Resende na organização de um livro para a infância e juventude, intitulado Primeiro Livro de Poesia (1993). Em prosa, escreveu O Rapaz de Bronze (1956), Contos Exemplares (1962), Histórias da Terra e do Mar (1984) e os contos infantis A Fada Oriana (1958), A Menina do Mar (1958), Noite de Natal (1959), O Cavaleiro da Dinamarca (1964) e A Floresta (1968). É ainda autora dos ensaios Cecília Meireles (1958), Poesia e Realidade(1960) e O Nu na Antiguidade Clássica (1975), para além de trabalhos de tradução de Dante, Shakespeare e Eurípedes. A sua obra literária encontra-se parcialmente traduzida em França, Itália e nos Estados Unidos da América. Em 1994 recebeu o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores e, no ano seguinte, o Prémio Petrarca, da Associação de Editores Italianos. O seu valor, como poetisa e figura da cultura portuguesa, foi também reconhecido através da atribuição do Prémio Camões, em 1999. Em 2001, foi distinguida com o Prémio Max Jacob de Poesia, num ano em que o prémio foi excepcionalmente alargado a poetas de língua estrangeira. Em Agosto do mesmo ano, foi lançada a antologia poética Mar. Em Outubro publicou o livro O Colar. Em Dezembro, saiu a obra poética Orpheu e Eurydice, onde o orphismo está, mais uma vez, presente, bem como o amor entre Orpheu, símbolo dos poetas, e Eurídice, que a autora recupera num sentido diverso do instaurado pela tradição helénica.






25 de Abril




Esta é a madrugada que eu esperava


O dia inicial inteiro e limpo


Onde emergimos da noite e do silêncio


E livres habitamos a substância do tempo










Poesia




A bela e pura palavra Poesia


Tanto pelos caminhos se arrastou


Que alta noite a encontrei perdida


Num bordel onde um morto a assassinou






A hora da partida




A hora da partida soa quando


Escurece o jardim e o vento passa,


Estala o chão e as portas batem, quando


A noite cada nó em si deslaça.




A hora da partida soa quando


as árvores parecem inspiradas


Como se tudo nelas germinasse.




Soa quando no fundo dos espelhos


Me é estranha e longínqua a minha face


E de mim se desprende a minha vida












A paz sem vencedor e sem vencidos




Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos


A paz sem vencedor e sem vencidos


Que o tempo que nos deste seja um novo


Recomeço de esperança e de justiça.


Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos




A paz sem vencedor e sem vencidos




Erguei o nosso ser à transparência


Para podermos ler melhor a vida


Para entendermos vosso mandamento


Para que venha a nós o vosso reino


Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos




A paz sem vencedor e sem vencidos




Fazei Senhor que a paz seja de todos


Dai-nos a paz que nasce da verdade


Dai-nos a paz que nasce da justiça


Dai-nos a paz chamada liberdade


Dai-nos Senhor paz que vos pedimos




A paz sem vencedor e sem vencidos










A pequena praça






A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça


Naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente


Eu agarrava-me à praça porque tu amavas


A humanidade humilde e nostálgica dos pequenas lojas


Onde os caixeiros dobram e desdobram fitos e fazendas


Eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer


E a vida toda deixava ali de ser a minha


Eu procurava sorrir como tu sorrias


Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco


E à mulher sem pernas que vendia violetas


Eu pedia à mulher sem pernas que rezasse por ti


Eu acendia velas em todos os altares


Das igrejas que ficam no canto desta praça


Pois mal abri os olhos e vi foi para ler


A vocação do eterno escrita no teu rosto


Eu convocava as ruas os lugares as gentes


Que foram as testemunhas do teu rosto


Para que eles te chamassem para que eles desfizessem


O tecido que a morte entrelaçava em ti










As Amoras




O meu país sabe as amoras bravas


no verão.


Ninguém ignora que não é grande,


nem inteligente, nem elegante o meu país,


mas tem esta voz doce


de quem acorda cedo para cantar nas silvas.


Raramente falei do meu país, talvez


nem goste dele, mas quando um amigo


me traz amoras bravas


os seus muros parecem-me brancos,


reparo que também no meu país o céu é azul.










As ondas




As ondas quebravam uma a uma


Eu estava só com a areia e com a espuma


Do mar que cantava só para mim.






As pessoas sensíveis




As pessoas sensíveis não são capazes


De matar galinhas


Porém são capazes


De comer galinhas




O dinheiro cheira a pobre e cheira


À roupa do seu corpo


Aquela roupa


Que depois da chuva secou sobre o corpo


Porque não tinham outra


O dinheiro cheira a pobre e cheira


A roupa


Que depois do suor não foi lavada


Porque não tinham outra




"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"


Assim nos foi imposto


E não: "Com o suor dos outros ganharás o pão".




Ó vendilhões do templo


Ó construtores


Das grandes estátuas balofas e pesadas


Ó cheios de devoção e de proveito


Perdoai-lhes Senhor


Porque eles sabem o que fazem.








Terror de te amar


num sítio tão frágil


como o mundo


Mal de te amar


neste lugar de imperfeição


Onde tudo nos quebra e emudece


Onde tudo nos mente e nos separa














Sophia de Mello Breyner Andresen é, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas portugueses contemporâneos – um nome que se transformou, em sinónimo de Poesia e de musa da própria poesia.
Sophia nasceu no Porto, em 1919, no seio de uma família aristocrática. A sua infância e adolescência decorrem entre o Porto e Lisboa, onde cursou Filologia Clássica.
Após o casamento com o advogado e jornalista Francisco Sousa Tavares, fixa-se em Lisboa, passando a dividir a sua actividade entre a poesia e a actividade cívica, tendo sido notória activista contra o regime de Salazar. A sua poesia ergue-se como a voz da liberdade, especialmente em "O Livro Sexto".
Foi sócia fundadora da "Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos"e a sua intervenção cívica foi uma constante, mesmo após a Revolução de Abril de 1974, tendo sido Deputada à Assembleia Constituinte pelo Partido Socialista.
Profundamente mediterrânica na sua tonalidade, a linguagem poética de Sophia de Mello Breyner denota, para além da sólida cultura clássica da autora e da sua paixão pela cultura grega, a pureza e a transparência da palavra na sua relação da linguagem com as coisas, a luminosidade de um mundo onde intelecto e ritmo se harmonizam na forma melódica, perfeita, do poema.
Luz, verticalidade e magia estão, aliás, sempre presentes na obra de Sophia, quer na obra poética, quer na importante obra para crianças que, inicialmente destinada aos seus cinco filhos, rapidamente se transformou em clássico da literatura infantil em Portugal, marcando sucessivas gerações de jovens leitores com títulos como "O Rapaz de Bronze", "A Fada Oriana" ou "A Menina do Mar".
Sophia é ainda tradutora para português de obras de Claudel, Dante, Shakespeare e Eurípedes, tendo sido condecorada pelo governo italiano pela sua tradução de "O Purgatório".




Obra

Poesia

Poesia, Coimbra, ed. da autora (3ª ed., Lisboa, Ática, 1975), 1944.
Dia do Mar, Lisboa, Ática, 1947.
Coral, Porto, Livraria Simões Lopes (2ª ed., ilustrada por Escada, Lisboa, Portugália,1968, 3ª ed., s.l., s.d.), 1950.
Tempo Dividido, Lisboa, Guimarães Editores, 1954.
Mar Novo, Lisboa, Guimarães Editores, 1958.
Cristo Cigano, ilustrado por Júlio Pomar, s.l., Minotauro (2ª ed., Lisboa, Moraes, 1978), 1961.
Livro Sexto, s.l. [Lisboa], Salamandra, 1962.
Geografia, Lisboa, Ática (3ª ed., Lisboa, Salamandra), 1967.
Antologia, Lisboa, Portugália (5ª ed., aumentada com prefácio de Eduardo Lourenço, Porto, Figueinhas), 1968.
Grades - Antologia de Poemas de Resistência, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1970.
11 Poemas, Lisboa, Movimento, 1971.
Dual, Lisboa, Moraes Editores (3ª ed., Lisboa, Salamandra, 1986), 1972.
O Nome das Coisas, Lisboa, Moraes Editores (2ª ed., Lisboa, Salamandra, 1986), 1977.
Poemas Escolhidos, Lisboa, Círculo de Leitores, 1981.
Navegações, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda (2ª ed., Lisboa, Caminho), 1983.
No Tempo e Mar Novo, 2ª ed., revista e ampliada, Lisboa, Salamandra, 1985.
Antologia, Porto, Figueirinhas, 1985.
Ilhas, Lisboa, Texto Editora, 1989.
Obra Poética, vol. I, Lisboa, Caminho, 1990.
Obra Poética, vol. II, Lisboa, Caminho, 1991.
Obra Poética, vol. III, Lisboa, Caminho, 1991.
Obra Poética I, Lisboa, Círculo de Leitores, 1992.
Obra Poética II, Lisboa, Círculo de Leitores, 1992.
Musa, Lisboa, Caminho, 1994.
Signo - Escolha de Poemas, Lisboa, Casa Pessoa, 1994.
O Búzio de Cós e Outros Poemas, Lisboa, Caminho, 1997.

Prosa
Rapaz de Bronze (O), Lisboa, Minotauro (2ª ed., Lisboa, Moraes, 1978), 1956.
Menina do Mar (A), Porto, Figueirinhas (17ªed., 1984), 1958.
A Fada Oriana, Porto, Figueirinhas (l2ªed., 1983), 1958.
Noite de Natal, Lisboa, Ática, 1960.
Contos Exemplares, Lisboa, Moraes (23ªed., prefácio de António Ferreira Gomes, Porto, Figueirinhas, 1990), 1962.
Cavaleiro da Dinamarca (O), Porto, Figueirinhas (21ª ed., 1984), 1964.
Os Três Reis do Oriente, desenhos de Manuel Lapa, s.l., Estúdio Cor, 1965.
Floresta (A), Porto, Figueirinhas (16ª ed., 1983), 1968.
Tesouro, Porto, Figueirinhas, 1978.
Contos: 1979, ilust. de Vieira da Silva, Lisboa, Galeria São Mamede, 1979.
Histórias da Terra e do Mar, Lisboa, Salamandra (3ªed., Lisboa, Texto Editora, 1989), 1984.
Árvore (A), Porto, Figueirinhas (3ª ed., 1987), 1985.
Era Uma Vez Uma Praia Lusitana, Lisboa, Expo 98, 1997.

Ensaio
"A poesia de Cecíla Meireles", Cidade Nova, 4ª série, nº 6, Novembro, 1956.
"Poesia e Realidade", Colóquio - Revista de Artes e Letras, nº 8, 1960.
"Hölderlin ou o lugar do poeta", Jornal de Comércio, 30 de Dez., 1967.
O Nu na Antiguidade Clássica, (col. O Nu e a Arte) Lisboa, Estúdios Cor (2ª ed., Lisboa, Portugália; 3ªed. [revista], Lisboa, Caminho, 1992), 1975.
"Torga, os homens e a terra", Boletim da Secretaria de Estado da Cultura, Dezembro, 1976.
"Luís de Camões. Ensombramentos e Descobrimentos", Cadernos de Literatura, nº 5, 1980.
"A escrita (poesia)", Estudos Italianos em Portugal, nº 45/47, 1982/1984.

Traduções pela Autora
A Anunciação de Maria, de Paul Claudel, Paris, Aster, 1962.
O Purgatório, de Dante, Lisboa, Minotauro, 1962.
"A Hera", "A última noite faz-se estrela e noite" (Vasko Popa); "Às cinzas", "Canto LI", "Canto LXVI" (Pierre Emmanuel); "imagens morrendo no gesto da", "Gosto de te encontrar nas cidades estrangeiras" (Edouard Maunick), O Tempo e o Modo, nº 22, 1964.
Muito Barulho por Nada, de William Shakespeare (inédito), [1964].
Hamlet, de William Shakespeare, Porto, Lello, 1965.
"Os reis Magos", tradução de um poema do Eré Frene, Colóquio - Revista de Artes e Letras, nº 43, 1967.
Quatre Poètes Portugais: Camões, Cesário Verde, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, 2ª ed., Lisboa, Presses Universitaires de France e Fundação Calouste Gulbenkian, 1970.
A Vida Quotidiana no Tempo de Homero, de Émile Mireaux, Lisboa, Livros do Brasil, s.d. [1979].
Ser Feliz, de Leif Kristianson, Lisboa, Presença, 1980.
Um Amigo, de Leif Kristianson, Lisboa, Presença, 1981.
Medeia, de Eurípedes (inédito) [199-].

Registo Áudio
DECLARAÇÕES E LEITURA DE POEMAS PELA AUTORA
"25 de Abril de 1974" - Significado cultural e declamação de Mário de Andrade: "Canção de Sabaú", Rádio Difusão Portuguesa, 9 de Mai., 1974.
"Declamação do poema 'No nosso e no vosso coração'" (Manuel Beira) e declaração sobre a "beleza", Rádio Difusão Portuguesa, 7 de Set., 1974.
Declaração sobre a literatura portuguesa depois de 25 de Abril. (Com Melo e Castro e Vasco Graça Moura, gravado em 28-5-1980 pela Rádio Sueca e posteriormente difundido pela Rádio Difusão Portuguesa.), 1980.
Declaração sobre o Dia Mundial da Criança, Rádio Difusão Portuguesa, 30 de Mai., 1980.
Declaração sobre o significado do uma condecoração, Rádio Difusão Portuguesa, 10 de Jun., 1980.
Sophia de Mello Breyner Andresen diz Navegações, (7''), MVSARVUM OFFICIA, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1983.
"Sophia de Mello Breyner - Personalidade humana e literária: o significado da sua poesia", Rádio Difusão Portuguesa, 25 de Abr., 1985.
POEMAS DITOS OU CANTADOS
"Cantata da Paz", cantada pelo Padre Fanhais (escrita por Rui Paz), Rádio Difusão Portuguesa, 1991.
"Porque", cantada pelo Padre Fanhais (escrita por Francisco Fernes), Rádio Difusão Portuguesa, 1991.
Signo - Escolha de Poemas , (Declamação dos poemas da antologia por Luís Miguel Cintra), Lisboa, Casa Pessoa, 1994.
"A paz sem vencedor...", Som da Poesia, (dito por Isabel Machado) nº 3, Jan., http://www.pagina.de/somdapoesia , 1994
"Sem Título", Som da Poesia, (dito por Isabel Machado) nº 5, Mar./Abr., http://www.pagina.de/somdapoesia , 1994



ANTOLOGIAS EM QUE ESTÁ REPRESENTADA



CRESPO, Ángel (org. e trad.), Antología de la Nueva Poesía Portuguesa, Madrid, Adonais, 1961.
LONGLE, Jean R. (org. e trad.), Contemporary Portuguese Poetry, (edição bilingue) Nova Iorque, Harvey House In., 1966.
TELLES, Sérgio (org.), Encontros, Lisboa, Centro do Livro Brasileiro, 1970.
MEYRELLES, Isabel (org. e trad.), Anthologie de Ia Poésie Portugaise du XIIe au XXe Siècle, Paris, Gallimard, 1971.
WEISSBORT, Daniel e Hélder Macedo (eds.), Modern Poetry in Translation: Portugal, Salisbury, Wilts, Compton Press, 1972.
SALVADO, António (org.), Antologia da Poesia Feminina Portuguesa, s.l., Edições J. F., s.d. [1973].
GOLUBEVA, E.(ed. e trad.), Portugal'skaia Poeziia XX Veka, Moscovo, Khudozhestvennaia Literatura, 1974.
MENERES, Maria Alberta e E. M. de Melo e Castro (orgs.), Antologia da Poesia Portuguesa (1940-1977), Lisboa, Moraes, 1977.
MACEDO, Hélder e E. M. de Melo e Castro (orgs. e trads.), Contemporary Portuguese Poetry - An Anthology in English, Manchester, Carcanet, 1978.
CRESPO, Ángel (org. e trad.), Antología de la Poesía Portuguesa Contemporánea, 2 vols., Madrid, Ediciones Júcar, 1982
SEELS, Marianne (trad.), Smaken Av Oceanerna, (em sueco), Kristianstads, Fibs Lyrikklubb, 1982.
SENA, Jorge de (ed.), Líricas Portuguesas I, 3ª série, 3ª ed., Lisboa, Portugália (1ª ed., 1958), 1984.
WILLIEMSEN, Augusto (trad.), Ik Verheerlijk het Verlend Niet, Dertienhedendaadse Dichters uit Portugal, (em neerlandês), Amsterdão, Meulenhoff, 1985.
Translation: Portugal, vol.XXV, Primavera, Nova Iorque, 1991.
AMARAL, Fernando Pinto (org.), Antología de Poesía Portuguesa Contemporánea, trad. Eduardo Lagagne et alia, Cidade do México, Universidade Nacional Autónoma do México, 1999.
VIDAL, Joaquim (org. e trad.), Malgré les ruines et la mort: Soixante ans de poésie portugaise, Paris, La Différence, 1999.
Publicações em Revistas e Jornais Estrangeiros
"Sophia de Mello Breyner Andresen", Mundus Artium, trad. Jean R. Longland, vol. 7, nº 2, 1974.
"An autumn morning in the Palace at Sintra", Mundus Artium, trad. Alexis Levitin, vol. 11, nº 1, 1979.
"Portrait of an unknown princess", Mundus Artium, trad. Alexis Levitin, vol. 11, nº 1, 1979.
"Translation", Chelsea Review, (não se apurou o nome do tradutor,) nº 41, 1982.
"Seven poems", Mundus Artium, trad. Lisa Sapinkopf, vol. 14, nº 2, 1984.
"Assassination of Simonetta Vespucci", New Orleans Review, trad. Lisa Sapinkopf, vol. 11, nº 2, Summer, 1984.
"The small square", The Times Literary Supplement, trad. Ruth Fainlight, 30 Dez., 1994.
"The house by the sea", The Literary Review, trad. Alexis Levitin, vol. 38, Summer, 1995.
"Portrait of an unknown princess" e "Morning walk", (não se apurou o nome do tradutor,) The Prague Revue, nº 5, Winter-Spring, 1998.

Primeiras Edições
"Poesia" ["Senhor", Poesia I], Cadernos de Poesia, nº 1, 1940.
"O vidente e outro Poema" ["O vidente", Poesia I], Aventura - Revista Bimestral de Cultura, nº 1, Maio, 1942.
"Poema" ["Sinto os mortos", Poesia I], Variante, Inverno, 1943.
"Aos outros dei aquilo que não eram" ["Saga", No Tempo Dividido], Unicórnio - Antologia de Inéditos de Autores Portugueses Contemporâneos, Maio, 1948.
"Soneto a Eurídice" [Idem, No Tempo Dividido], Unicórnio - Antologia de Inéditos de Autores Portugueses Contemporâneos, Maio, 1951.
"As Três Parcas" [Idem, Mar Novo], Europa - Jornal de Cultura, nº 1, Jan., 1957.
"Assassinato de Simoneta Vespucci" [Idem, Coral], Estada Larga (Antologia do Suplemento "Cultura e Arte" de O Comércio do Porto, editado por Costa Barreto), nº 3, Porto, Porto Editora, s.d. [1963?].
"Poema" [Idem, Geografia], O Tempo e o Modo, nº 12, 1964.
"Manuel Bandeira" [idem, Geografia], Colóquio - Revista de Artes e Letras, nº 41, 1966.
"Camões e a Tença" [Idem, Dual], Ocidente - Revista Portuguesa de Cultura, nº 415, vol. LXXXII, Novembro, 1972.
"Cíclades" [Idem, O Nome das Coisas ], Nova - Magazine de Poesia e Desenho, ed. Herberto Hélder, Inverno, 1975.
"Poeta em Lisboa" ["'Fernando Pessoa ou Poeta em Lisboa'", O Nome das Coisas]; "A civilização em que estamos" ["O rei de Ítaca", O Nome das Coisas], Critério - Revista Mensal de Cultura, nº 6, Abr., 1976.
"Destruição" ["Tempo de não", Ilhas], Loreto 13 - Revista Literária da Associação Portuguesa de Escritores, nº 1, Jan., 1978.
"Persona" [Idem, Ilhas]; "Fragmento de Os Gracos" [Idem, Ilhas] - Colóquio-Letras, nº 56, 1980.
"Tão Grande a Dor"; "Salgueiro Maia"; "Fidelidade"; "À Maneira de Horácio" [Musa], Jornal de Letras, 23 Fev., 1994.

Poemas não incluídos na Obra Poética
"Juro que venho pra mentir"; "És como a Terra-Mãe que nos devora"; "O mar rolou sobre as suas ondas negras"; "História improvável"; "Gráfico", Távola Redonda - Folhas de Poesia, nº 7, Julho, 1950.
"Reza da manhã de Maio"; "Poema", A Serpente - Fascículos de Poesia, nº 1, Janeiro, 1951.
"Caminho da Índia", A Cidade Nova, suplemento dos nº 4-5, 3ª série, Coimbra,1958.
"A viagem" [Fragmento do poema inédito "Naufrágio"], Cidade Nova, 5ª série, nº 6, Dezembro, 1958.
"Novembro"; "Na minha vida há sempre um silêncio morto"; "Inverno", Fevereiro - Textos de Poesia, 1972.
"Brasil 77", Loreto 13 - Revista Literária da Associação Portuguesa de Escritores, nº 8, Março, 1982.
"A veste dos fariseus", Jornal dos Poetas e Trovadores - Mensário de Divulgação Cultural, nº 5/6, 2ª série, Março/Abril, 1983.
"Oblíquo Setembro de equinócio tarde", Portugal Socialista, Janeiro, 1984.
"Canção do Amor Primeiro", Sete Poemas para Júlio (Biblioteca Nacional, cota nº L39709), 1988.
"No meu Paiz", Escritor, nº 4, 1995.
"D. António Ferreira Gomes. Bispo do Porto"; "Naquele tempo" ["Dois poemas inéditos"], Jornal de Letras, 16 Jun., 1999.

Entrevistas
COELHO, Alexandra Lucas, "No jardim de Sophia", Público, 12 Jun., 1999.
COELHO, Eduardo Prado, "Sophia de Mello Breyer Andresen fala a Eduardo Prado Coelho", ICALP Revista, nº 6, Ago./Dez., 1986.
COIMBRA, Sérgio, Independente, 13 de Out., 1995.
COSTA, Soledade Martinho, Diário de Lisboa, 31 de Jan., 1979.
FRANÇA, Elisabete, Diário de Notícias, 24 de Nov., 1994.
GUERREIRO, António, Expresso, 15 de Jul., 1990.
LEMOS, Vergílio de, Ler, nº 7, Círculo de Leitores, 1989.
LEMOS, Vergílio de, Oceanos, Julho, 1990.
PASSOS, Maria Armanda, Jornal de Letras, 16 de Mar., 1982.
PEREIRA, Miguel Serras, Jornal de Letras, 5 de Fev., 1985.
SIGALHO, Lúcia, Vida Mundial, 31 de Mai., 1989.
SILVA, Sérgio S., Semanário, 7 de Jan., 1989.
TOMÉ, Luís Figueiredo, Diário de Notícias, 20 de Dez., 1987.
VASCONCELOS, José Carlos de, "Sophia: a luz dos versos", Jornal de Letras, 25 deJun., 1991.
ZENITH, Richard, Translation: Portugal, vol. XXV, Primavera, Nova Iorque, 1991.

Na Comunicação Social
"Sophia de Mello Breyner na A.P.E.": "A liberdade, para mim, não é unilateral: abrange o respeito pela liberdade dos próprios inimigos", O Século, 15 de Abr., 1976
"Respeito pelo pluralismo e defesa total da liberdade de criação e expressão", Diário de Notícias, 15 de Abr., 1976.
"O direito à cultura é um direito fundamental.", A Capital, 30 de Abr., 1977.
"Os julgamentos de Moscovo", A Capital, 27 de Jul.,1978.
"Porque apoio Eanes", O Jornal, 28 de Nov., 1981.
"Mário Soares estará sempre onde estiver a liberdade", Revista do Povo, Janeiro, 1986.
"Tenho esperança mas não confiança", Diário de Notícias, 1 de Jan., 1990.
"Falar do que vi", Ler, Círculo de Leitores/Instituto Português do Livro e da Leitura, Ago./Set., 1990.
"Sophia contra o Acordo Ortográfico", Jornal de Letras, 25 de Jun., 1991.
"Naquele Tempo" [sobre Mário Soares], Jornal de Letras, 7 de Dez., 1994.

Outras intervenções
Poesia Sempre I [Antologia de poesia portuguesa seleccionada pela Autora e Alberto de Lacerda] , Lisboa, Livraria Sampedro, 1964.
Poesia Sempre II [Antologia de poesia portuguesa seleccionada pela Autora], Lisboa, Livraria Sampedro, 1964.
[Introdução,] Catálogo da Exposição de Escada, Lisboa, Livraria São Mamede, 1979.
"Sicília", Grande Reportagem, nº 5, Ano II, 2ª série, Publicações Dom Quixote, 1991.
Primeiro Livro de Poesia: Poemas em Língua Portuguesa para a Infância e a Adolescência, ilustrado por Júlio Resende, Lisboa, Caminho, 1991.
[Prefácio], APARÍCIO, João, À Janela de Timor, Lisboa, Caminho, 1997.










O mundo de Sophia é povoado por deuses e não por homens. Por isso, é mais fácil encontrá-lo nos vestígios e nos lugares da civilização grega do que no mundo em que habitamos. Por vezes, esta poesia chega a ser de uma profunda desumanidade:sonhando com a perfeição, o equilíbrio e a harmonia (...) ergue-se para além do mal e da imperfeição que nos são consubstanciais e faz reviver um tempo sem mácula. (...) É aí que a poesia se dá como revelação e como relação com o Todo, como uma espécie de linguagem natural que decorre simbolicamente das coisas. (...) Impossível não sermos tocados pela força bem perceptível desta positividade. Sophia faz-nos sentir o júbilo de uma poesia que avança contra ou à margem do sentido negativo da História (...) e atribui ao poeta a sua missão original de celebração.






António Guerreiro














Entrevista
Maria Maia entrevista Sophia de Mello Breyner Andresen(em Jornal de Poesia, Lisboa, 10 de Maio de 2000)




Maria: Quando estive aqui com o Fernando Mendes Vianna há dois anos, a sra falou um pequeno trecho da Odisseia em grego. Falou de memória


Sophia: Falei em grego? Eu não sei grego, só uns versos.


Maria: Falou alguns versos... a senhora é muito marcada pela visão do mundo grego?


Sophia: Sim, sim, evidentemente.


Maria: Como assim?


Sophia: É natural, não é? É muito parecido. Como na Grécia tem a mesma cor, se come azeitona, figo, azeite. É como a Itália, não? Sabe, nós não sabemos ao certo como nos marcam as coisas que verdadeiramente nos marcaram. É como um amigo que perguntou: como fazer verso?Maria: Não se explica.


Sophia: Eu pelo menos não explico. Só as pessoas que fazem maus versos podem explicar. O que marcou e o que fez verso.Maria: Quando a senhora começou a escrever?


Sophia: Quando comecei escrever eu não sabia escrever. Eu tinha uma pena enorme (rindo ). Eu pedi a minha mãe papel e caneta. Escrevia uma grafia que eu tinha imaginado, imagine você...Uns desenhos de umas letras inventadas por mim. Eu contava em voz alta.


Maria: Muito criança ainda, antes de ser alfabetizada?Sophia: É. Foi. E depois aprendi a ler e a escrever. Comecei a escrever cedo, sim. 14 anos, 12 anos. Primeiro mal, depois melhor, não é?


Maria: E publicou com uns vinte e poucos anos.


Sophia: 23 ou 24, já não lembro mais. Primeiro livro, sim. (pausa. Retoma decidida). Não, publiquei antes. Em revistas e coisas assim. Depois publiquei um livro. Creio que aos 24 anos.


Maria: Isso em 44. O livro Poesias, não é?


Sophia: Poesia. No singular.Maria: Poesia. É. Depois então em 64 ganhou um prémio importante aqui em Portugal.Sophia: Um prémio importante? Sim, foi no ano passado.


Maria: O prémio Camões, no ano passado. Mas em 1964 um livro de poesia da senhora já tinha sido premiado.


Sophia: Sim.


Maria: E sua relação com a poesia brasileira, conheceu poetas brasileiros?Sophia: Bem, eu acho que tive uma relação muito profunda com o João Cabral e com as coisas que ele procurava ( pausa ). Eu não pensava muito nisso. Nuca tive muita teoria. Fui sempre uma pessoa muito antiteórica. Mas encontrei muita coisa. Quando encontrei João Cabral ele disse-me assim: eu tenho muita admiração por si...que é que ele disse? ( pausa) como é que foi que ele disse? (procurando na memória) ...porque você é uma poeta que usa muito substantivo concreto.( ri ). Eu pensei: é? Mas é verdade, não é? Nos encontramos em Sevilha. Nós fomos com uns amigos brasileiros que iam lá convidados pelo João, para a casa dele. E o João disse: por que vocês não vêm e ficam no hotel? E fomos e ficamos num hotel lindo que o João descobriu. Era lindo, era um antigo palácio de uma família sevilhana. Já não existe, sabe? ( dando um trago no cigarro). Já destruíram ( jogando as cinzas no cinzeiro). O turismo é uma desgraça em toda parte do mundo, não é?


Maria: Vai acabando tudo, nivelando, pasteurizando... O encontro com João Cabral foi quando ele era cônsul em Barcelona, não? E a partir daí a senhora entrou em contanto com a poesia brasileira?


Sophia: Não. Eu já tinha lido o Manuel Bandeira. Já tinha lido vários poetas brasileiros. É que nesse tempo havia uma relação muito mais próxima, sabe? Porque o mundo não estava tão confuso como agora. Sai tanto livro. Sai tanta confusão. Agora um poeta se projecta, fala-se de sua obra, não é porque escreveu livros bons. É porque tem uma boa pessoa encarregada de sua propaganda.


Maria: De preparação na mídia, nos jornais. É verdade.


Sophia: Naquele tempo não. Vinha um amigo que dizia assim: - "Li ontem um poeta brasileiro extraordinário". Ele não tinha nada a ver com propaganda alguma. Mas a gente, se queria, lia o livro.


Maria: E a senhora considera importante esta relação entre a poesia portuguesa e brasileira?


Sophia: Bem, eu considero importante a relação entre toda a poesia. A portuguesa com a brasileira é importante, como é importante a relação com a poesia africana. A poesia moçambicana é óptima, não é? Porque são países que falam português. Quer dizer, tem uma experiência de linguagem falada, de uma língua só.


Maria: E agora, ultimamente a senhora fez O Búzio de Cós, o último livro publicado foi O Búzio de Cós. E continua escrevendo?


Sophia: Sim, continuo.


Maria: E o sentido do trágico? A sua poesia é trágica, no sentido grego... A senhora se considera da mesma tradição de Fernando Pessoa?Sophia: Não acho muito parecido com a tradição do Pessoa não. ( pausa longa ) O pessoa é um homem que para escrever renunciou a viver. Isso não se parece comigo nem com o João Cabral, não é?


Maria: A sua é uma poesia de quem vive, não é?


Sophia: Sim. É uma poesia de quem vive.


Maria: A senhora tem um artigo, um ensaio, sobre a Cecília Meirelles.


Sophia: Tenho. Foi o primeiro artigo que fiz na minha vida, não é mesmo? Porque eu não gostava nada de artigos. Mesmo hoje em dia não gosto nada. Mas naquela época eu gostava menos, sabe?


Maria: E por que escreveu sobre a Cecília?


Sophia: Porque havia uma homenagem à Cecília e me convidaram para ir. Então eu fiz o artigo. Correu bem. Houve muita palma na minha intervenção. Mas a Cecília não foi, você sabe? Então aconteceu uma coisa, uma história engraçada. Ela não foi porque tinha uma amiga - agora se pode dizer porque a Cecília já morreu e a amiga também. E a amiga dela era uma mulher feia, fazia muita intriga. E disse à Cecília que éramos comunistas. A Cecília teve medo. Tratou a sério e não veio. Eu fui e também li os poemas dela. Depois ela ficou um bocado escandalizada, não é? Então a Cecília no Natal mandou uma grande caixa com frutos de natal, sabe? Frutas secas, nozes, essas coisas de natal. Você sabe que todos os natais eu ponho na árvore de natal ainda hoje? Mas eu nunca agradeci à Cecília.


Maria: Foi um equívoco que aconteceu entre vocês. Lamentável.


Sophia: (Levantando-se para pegar o segundo cigarro). Foi pateta. Mas é melhor perdoar, não? ( longo silêncio. Sophia levanta-se, pega a carteira de cigarros na mesa em frente ao sofá e leva para o seu escritório, contíguo à sala onde estamos sentadas). Vou guardar para não fumar mais. Fumo muito pouco. Eu tenho muito pouco cigarro. É uma coisa terrível, porque não se vendem cá estes cigarros. Então quando vem um amigo, me traz.


Maria: Ah! Não se vendem aqui em Portugal?


Sophia: É. E também tenho que fumar pouco, não é? Então meus amigos dizem-me assim: - "Eu mando pouco para você fumar pouco." [Espero. Depois de instantes, Sophia retorna com um cigarro, que mantém apagado.]


Maria: A fonte de sua poesia é Portugal, o mundo ou é interior?


Sophia: Daí eu não sei a diferença entre interior e exterior. Eu vejo com os olhos, ouço com os ouvidos, como com os dentes, sinto com o nariz. Quanto a minha poesia, é Portugal, é interior e é exterior. Tenho uma parte intelectual, evidentemente. Tem uma parte de cultura, tem uma parte intelectual. Mas tem uma parte vivida, não é?


Maria: E a senhora teria uma definição para a atitude poética?


Sophia: Não, não é possível.


Maria: É fazer.


Sophia: É.


Maria: E suas fontes, referências dentro da poesia, da tradição poética?


Sophia: ( partindo o cigarro ao meio e me oferecendo metade ) Quer?


Maria: Não.


Sophia: Eu parto aqui ( dividindo um cigarro entre 2/3 e 1/3 ) É que até aqui não se fuma ( apontando a parte do cigarro que, por incluir o filtro, focou maior). Esta parte não se fuma, não é? Se eu partir aqui ( aponta o meio do cigarro ) não fica nada (risos ).


Maria: Eu parei de fumar. Mas de vez em quando fumo um pouquinho.


Sophia (acendendo o meu cigarro e o dela) Estou muito mesquinha hoje. Estou um bocado cansada.


Maria: Quer parar?


Sophia: Não. Daqui mais um quarto de hora.


Maria: Então a senhora estava falando das referências. Eu perguntei sobre as referências poéticas da senhora.


Sophia: ( pausa, Sophia dá uma longa tragada) Pois, o que é que você chama de referências poéticas, ter lido Homero? Ter lido João Cabral?Maria: Sim


Sophia: Eu acho que é muito mal um poeta que só lê o que escreve. Mas há muito poeta assim hoje em dia, não é? Por isso é que a literatura moderna está tão confusa...O texto mais bonito do Saramago é um artigo não muito longo que ele publicou quando teve o prémio. Ele fala da sua relação com o avô quando era pequeno. É muito bonito. É o texto mais nostálgico e mais poético que o Saramago escreveu. É um texto que ele fala da sua própria vida. Ele fala o que os livros não falam ou se falam, falam de uma outra maneira.


Maria: Actualmente em Portugal se faz muita poesia boa?


Sophia: Há poetas bons, sim. António Ramos Rosa é muito bom, e outros bons poetas.


Maria: A senhora considera a língua portuguesa uma língua boa para se tratar de poesia?


Sophia: Eu penso que sim. Porque é uma língua que tem uma grande dificuldade em dizer tudo. Falar com tudo, não é. Não é uma língua estereotipada como é um pouco o francês e o inglês. No inglês há muita coisa compacta. O inglês é muito rico, mas tem que ser num único sentido. Em inglês deve-se começar o verso pela primeira pessoa. Eu sei porque tenho colaborado com escritores que me traduziram. Faz muita diferença. A única língua na qual se pode traduzir bem o poeta português é o italiano. Porque é a mesma organização da frase, não é?Maria: Interessante esta relação da língua portuguesa com outras. Porque também me parece que a língua portuguesa tem possibilidades extraordinárias.


Sophia: Sim, porque tem uma capacidade de dizer, de formar novas palavras.


Maria: Um pouco como o alemão, talvez?
Sophia: É.


Maria: O que é ser poeta hoje? Porque o mundo está tão confuso, tão fragmentário...tem lugar para o poeta hoje?


Sophia: Eu penso que tem, se ele arranja. Evidentemente que é importante que elas encontrem o eco da sua voz. (Toca o telefone, Sophia atende, era engano)


Maria: Este livro aqui foi encontrado entre os escritos de Fernando Pessoa, O que o turista deve ver em Lisboa . Foi encontrado há uns dez anos.


Sophia: Está escrito em que língua?


Maria: Ele foi escrito originalmente em inglês, mas esta edição é bilingue.


Sophia: Ah! Muito bom, muito interessante.


Maria: Porque ele achava que o povo português precisava ser mais respeitado dentro da Europa.


Sophia: Pois acontece uma coisa, sabe? Nós gostamos muito da Espanha, da arte espanhola. E o espanhol tem feitos extraordinários. Mas o espanhol é muito afirmativo, tem a mania de negar o outro. E eles têm feito uma política muito antiportuguesa. E eles atrás dos portugueses descobrindo a mesma coisa que os portugueses já tinham descoberto. E é preciso lembrar que as caravelas portuguesas que iam para os descobrimentos os espanhóis saqueavam na volta e mesmo na ida.


Maria: É também muito curioso que grande parte dos poetas contemporâneos importantes sejam poetas de língua portuguesa, não é? O Fernando Pessoa, a senhora, o Jorge de Sena...Mesmo poetas brasileiros importantes como Jorge de Lima, João Cabral...


Sophia: Você vê como o João Cabral usa a língua portuguesa - ele usa e quer usar - muito como Camões. Aqueles poemas conhecidos do Camões, da Índia, são poemas que brincam muito com a palavra. É muito parecido com o João Cabral.


Maria: E o seu exercício poético é também brincar com as palavras?


Sophia: É, sim. Jogo. Há muita parte de jogo, sim. Eu acho que o melhor momento da escrita do poema é quando as pessoas começam a sentir as palavras moverem-se sozinhas, sabe? E a brincarem umas com as outras. Andar a procura da rima, andar a procura do tempo, a procura da consonância, não é?






Miguel Torga revisitado


Adolfo Correia Rocha, que viria a ganhar renome literário nacional e internacional sob o nome de Miguel Torga, nasceu em 12 de Agosto de 1907 em São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa. Foram seus pais Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição de Barros, camponeses pobres.
Concluído o ensino primário em São Martinho de Anta, com um tal professor Botelho a que se refere em A Criação do Mundo, frequentou durante um ano o Seminário de Lamego, que abandonou por falta de vocação e contra a vontade paterna. A alternativa encontrada foi a partida para o Brasil, em 1920, ao cuidado de um tio abastado, proprietário da fazenda Santa Cruz, no Estado de Minas Gerais. Aí se ocupou das tarefas mais diversas relacionadas com a vida da fazenda, até que em 1925 regressa a Portugal. Conclui então o Curso dos Liceus e ingressou na Faculdade de Medicina de Coimbra, concluindo a formatura em 1933.
Regressa então fugazmente, no exercício da profissão de médico, a São Martinho de Anta, de onde passa a Vila Nova (Miranda do Corvo) e depois Leiria. Feita a especialização em otorrinolaringologia, casa em 1940 com Andrée Crabbé e no mesmo ano fixa-se em Coimbra, e é nessa cidade que vive o resto dos seus dias, com frequentes viagens em Portugal (com destaque para São Martinho de Anta, que é a sua matriz anímica e como tal sente necessidade de visitar regularmente) e ao estrangeiro. Faleceu em Coimbra, em 17 de Janeiro de 1995, sendo sepultado no dia seguinte em São Martinho de Anta. À cabeceira da campa rasa foi plantada uma torga.
Poeta, diarista, ficcionista e dramaturgo de excepcional qualidade, Miguel Torga é um dos maiores vultos da literatura portuguesa de sempre, aliás internacionalmente reconhecido e premiado. Tendo começado como poeta inserido no grupo modernista da Presença, não demora muitos anos a distanciar-se do movimento, chefiado por José Régio e João Gaspar Simões, e a seguir um caminho próprio, menos individualista e mais aberto aos problemas da Humanidade — a única via que convinha a um espírito visceralmente rebelde como era o seu. De facto, como escreve David Mourão-Ferreira, “a sua posição, nas nossas letras, continua a ser a de um grande isolado — que, no entanto (ou por isso mesmo) consubstancia e representa, ora de forma mais directa ora através de inevitáveis símbolos, quanto existe de viril, de vertical, de insubornável, no homem português contemporâneo.”
Após alguns livros de poemas, os primeiros dos quais assinados com o seu nome civil — Adolfo Rocha — e dos três primeiros volumes da sua autobiografia romanceada, intitulada A Criação do Mundo, segue-se, entre 1940 e 1943, uma série de três livros de contos absolutamente magistrais: Bichos (1940); Montanha (1941), a partir da segunda edição Contos da Montanha; e Novos Contos da Montanha (1943). Escreveu sempre, até próximo do final, tendo deixado, além das já citadas, obras importantes como por exemplo o romance Vindima (1945), as peças Mar e Terra Firme (ambas de 1941), os livros de poemas Cântico do Homem (1950), Orfeu Rebelde (1958) e Poemas Ibéricos (1965), o roteiro Portugal (1950) e sobretudo os dezasseis volumes do Diário (primeiro volume em 1941, último — o décimo-sexto — em 1993), um registo muito pessoal da mundividência e da mundivivência de Torga, entremeado de belíssimos poemas.
O seu comprometimento com o destino do homem, decorrente de um “huma-nismo essencial e consequente” (ainda nas palavras de David Mourão-Ferreira), valeu-lhe dissabores vários, como a prisão, a censura e a apreensão de obras suas pela PIDE. Mas, mesmo na hora da libertação do país, em 1974, Torga manteve-se íntegro (inteiro, como ele gostava de dizer) e afastado da política partidária, em que não se revia, recusando totalitarismos e demagogias e proclamando sempre os valores da liberdade e da solidariedade.
Miguel Torga foi distinguido com diversos prémios de grande relevância, como o Prémio Internacional da XII Bienal de Poesia de Knokke-Heist (Bélgica, 1976), o Prémio Morgado de Mateus (1980), o Prémio Camões, o mais importante do mundo da lusofonia (1989), o Prémio Vida Literária da APE (1992), o Prémio Écureuil de Literatura Estrangeira do Salão do Livro de Bordéus (1992) e outros.
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sábado, 2 de junho de 2007

Resumo da obra APARIÇÂO DE VERGÌLIO FERREIRA



APARIÇÃO é um romance de personagem que tem como finalidade não apenas contar histórias, mas apresentar as reflexões que o autor vai expondo a propósito dele próprio, de outras personagens ou do mundo em geral. Segundo palavras do autor, este romance foi “a necessidade de ele se redescobrir e descobrir os limites da sua condição humana.

Há uma personagem que ocupa toda a obra e à volta da qual tudo gira. Há um eu narrador, distanciado dos acontecimentos da narrativa e um narrador-personagem auto e homo-diegético, à volta do qual se movem as outras personagens. O eu-narrador distante move-se num tempo posterior aos acontecimentos narrados.

Alberto Soares é simultaneamente a personagem central e o narrador do que lhe aconteceu em dois planos distintos (na sua aldeia e na cidade de Évora).
Há uma acção principal que abrange a maior parte dos factos narrados ligados a uma trágica revelação ou Aparição, no espaço citadino, e uma acção secundária, ligada ao espaço rural, que completa a acção principal (morte do pai).


2ºCAPÍTULO

Acção Principal - Acontecimentos /Reflexões - Chegada ao Liceu de Évora “A profissão não se escolhe, sai-nos”/ Encontro com o Reitor A descoberta de nós próprios
Acção Secundária
O seu pai ajuda-o na escolha da profissão “Mas eu, eu o que é que sou”
Estrutura
Inútil tentar dormir- Volta à realidade
Banho Conversa com Sr.Machado
“Que as coisas querem-se claras desde o início”

“Lavei-me enfim(...)
Saí com uma tranquilidade nova”

Descrição da cidade de Évora “A cidade resplandecia a um sol familiar,
branca, enredada de ruas (...) Évora mortuária,
encruzilhada de raças,ossuário dos séculos...”

Pausa narrativa
“Escrevo à luz mortal deste silêncio lunar,
batido pelas vozes do vento, num casarão
vazio”

Continuação da descrição da cidade até
Liceu: “E finalmente descubro o edifício
do Liceu”

Tempo de escrita /Tempo da narrativa
“Conto tudo, como disse, à distância de alguns anos(...)
Mas os elos de ligação entre os factos que narro é como
se se diluissem num fumo de neblina...”
“Eis-me, pois, em face do Liceu...”
“Não escolhi a profissão: de algum modo saíra-me”

Espaço da memória: A ESCOLHA DA PROFISSÃO

Professor porquê? Papel fundamental do pai: “Penso que te darás melhor em Letras”
A vida de Professor era tranquila para quem nunca tivera saúde
Interesse demonstrado pelas leituras versos
interesse filosófico pela vida: Quem sou eu?
O Liceu
Espaço
Claustro
Jardim tratado
taça de mármore
silêncio
Tempo
Setembro
Exames de 2ª época

O Reitor

“homem alto e vagaroso”
É recordado como um amigo de “face cansada de quem esgotou a vida” que o ouvia
“do lado de lá do seu cansaço”
“Dois dias depois começavam os exames de 2ªépoca”
Início do trabalho- Mudança no tempo
“O tempo arrefecera bruscamente”
“O sol triste pousa ao de leve nas coisas”
“Um vento inesperado sopra de vez em quando”
Notícia de que o Dr. Moura telefonou e “quer saber onde é que o pode encontrar”

3ºCAPÍTULO

ACÇÃO PRINCIPAL/Acontecimentos Reflexões
Encontro com o Dr. Moura Aparição de Cristina: “Uma criança era
Jantar com a família Moura bastante para erguer o mundo nas mãos”
Regresso à pensão Machado O Mistério da Morte, Deus, Imortalidade.

ACÇÃO SECUNDÁRIA
O trabalho de vestir o pai morto Inverosimilhança da Morte
“Deus está morto porque sim”
“Deus é absurdo porque é”
“O Deus da Infância já não cabe no adulto Alberto Soares”

ESTRUTURA
“Mas não foi fácil encontrarmo-nos”- continuação directa do capítulo anterior
Encontro com o Dr. Moura, no café Arcada, em dia de feira
“vozearia, fumarada e odor a corpos” tornavam difícil o encontro
falam sobre a morte do pai de Alberto.
Memória da casa, “velha casa”
O Dr. Moura fala de Sofia

Pausa: O narrador fala da memória que tem de Sofia: “os teus olhos vivos(...)
tinham o mistério da vitória e do desastre, da violência e do sangue”
Aparece Alfredo Cerqueira, genro do Dr. Moura
Alberto Soares recebe um convite para jantar.

jantar com a família Moura
Descrição da casa

Família Moura:

MADAME- “abundante senhora, loura por antiguidade, ousada e astuciosa”, mulher distante.
ANA- “cabelos longos e lisos, face magra de energia e de ânsia, olhar vivo”
CRISTINA- “Sete anos, saia azul de folhos, arzinho de menina grave”
SOFIA - a última a aparecer
“vestido branco colado como borracha, e um corpo intenso e maleável (...) era assim como se uma descarga da terra a atravessasse toda”
ALFREDO- “docemente calvo, sorria para tudo”
O NARRADOR É ESCRITOR- NÃO É CRENTE
CHICO- (amigo da família Moura). “um tipo baixinho, sólido, quadrado, de uns trinta anos com ar dominador de pugilista.
CRISTINA TOCA PARA TODOS MAGIA
“Eis que chega a tua hora, Cristina”
REFLEXÕES SOBRE CRISTINA “Ana estranhamente acarinhou-a de um modo especial”
Antevisão de uma relação muito especial
“Tu não és de parte alguma, de tempo algum”
“Cristina viera fora do tempo”
“Eu vi abrir-se à nossa face o dom da revelação”
“Súbita aparição foste surpresa em tudo para todos”

“Depois cantou-se”
“Ergui-me enfim para me despedir”
“Saí enfim para a noite”- Conversa com o Chico sobre a cultura na cidade de Évora
De regresso à Pensão o narrador enerva-se com o Sr. Morgado e tem vontade de mudar de pensão.
Necessidade da escrita

REGRESSO À MEMÓRIA

Vestir o pai- “Senti um arrepio na ameaça do contacto com uma carne morta”
“a estúpida inverosimilhança da morte”
“que é que te habita, que é que está em ti”
Descrença total em Deus: “Não cabe na harmonia do que sou”
A morte do corpo/A morte do EU.


4ºCAPÍTULO

Acção Principal/Acontecimentos Reflexões

(não há) “Justificar a vida em face da inverosimilhança da morte”

Acção Secundária
Apresentação parcial da tia Dulce Interrogação sobre a morte e o nada a que esta reduz as pessoas.

ESTRUTURA
Toda a acção se desenrola em torno de um problema existencial: “portanto eu tinha um problema”. (A descoberta do problema deu-se quando o narrador sente repugnância em tocar na carne morta do seu pai)

O homem é produto de tudo e de todos quantos o antecedem

Divagações entre SER e NÃO SER

Do NÃO SER ao NADA: “Quem te habita não é (...) depois serás exactamente um nada”
O ser existe enquanto existe a memória da sua existência

Memória da tia Dulce (tudo o que era mau se esquece e o que resta é apenas “o velho album de fotografias”)

O autor é o herdeiro dos “mistérios da família” que se transmitem através do velho album de fotografias.

TIA DULCE - Irmã do avô - magrinha, sisuda (para impôr o respeito)
Cumpria as regras sociais (não comer muito)
Tinha algo de diferente (“porque em ti vivia a fascinação do tempo, o sinal do que nos transcende”; beata e gananciosa.

5ºCAPÍTULO
Acção Principal/Acontecimentos Reflexões

Início das lições de Sofia O estranho procedimento de Sofia
Recepção de Sofia na Pensão “Porque há-de a vida ter razão sobre
do Sr. Machado. nós? porque havemos sempre de ser
Passeio com o Dr. Moura nós a sumeter-nos?”
História do Bailote

ESTRUTURA
Sofia inicia as suas lições e revela um temperamento inconstante e estranho - “E era assim como se qualquer coisa a habitasse e fosse maior do que ela e do que a miséria das regras de gramática”
O narrador sente-se perturbado com a presença de Sofia.
Sofia rejeita as aulas de latim. A mãe desculpa-a: “temos de ter todos paciência”
Sofia vai buscar Alberto à pensão para um encontro com o Dr. Moura. O sr. Machado ficou muito incomodado.
O Dr. Moura apresenta-lhe uma visão equivalente a um santuário.
O Dr. Moura traça o perfil de Sofia a partir de histórias da sua infância. Revela os seus comportamentos estranhos e os seus gostos mórbidos. Fala-se das suas tentativas de suicídio.
O narrador, servindo-se de uma prolepse, anuncia que Sofia acabou por morrer, “morte inesperada que te evitou o gesto puro de te matares.
Regressa à conversa do Dr. Moura, num dia em que o narrador pela primeira vez viu a Praça da Cidade enfeitada de crisântemos. Percebe-se o gosto de Sofia pelo “absoluto da destruição”
A destruição e a morte predominam. Bailote pede ajuda ao Dr. Moura, numa atitude de desespero, tentando recuperar o gesto e a força perdidos. Pede ao médico um remédio que o cure, que o impeça de ser velho e de se tornar inùtil. O Dr. Moura segue em frente para visitar uma doente. No caminho do regresso apercebem-se de que o homem se enforcou.

6ºCAPÍTULO

Acção Principal/Acontecimentos Reflexões

“era absolutamente necessário que a vida se iluminasse na evidência
da morte”
“Quem sou eu? Quem está comigo?
Encontro com Chico e com o Bexiguinha

Acção Secundária

Narração de uma história de infância A descoberta de que era alguém na
imagem que o espelho lhe devolveu, a “aparição fulminante de mim a mim
próprio”.

ESTRUTURA

O narrador sente “espanto, fúria e terror” pela morte do Bailote. O Dr. Moura fica em silêncio, perturbado.
“Que fazemos nós na vida?”
Alberto Soares sente a necessidade de fazer a conferência para elucidar as pessoas, para elucidar as pessoas, para “revolucionar o mundo”.
Procura Chico por todo o lado até que resolve ir a casa dele.
Fala-se da conferência em que Alberto Soares se propõe falar de uma coisa nova.
Aparece Carolino: aluno de Alberto Soares, primo do Chico, moço bisonho, cara cravada de impigens, tratavam-no por Bexiguinha.
Alberto Soares fala e Carolino escuta-o entusiasmado.
Toca o telefone e interrompe as lucubrações do narrador sobre Nós e o Eu que nos habita. Chico não pode compreender, é um homem do cimento e dos alicerces.
Alberto Soares conta um episódio da sua infância, passado na casa da família, era ele pequeno. As memórias trazem-lhe a imagem do pai a falar-lhe sobre o Universo.
A criança descobre a sua imagem reflectida no espelho e julga tratar-se de um ladrão. Todos acham que ele possui uma grande imaginação e culpam a tia Dulce e as suas histórias de influenciar a criança sensível.
Chico não compreende nada, Carolino fica petrificado. Para Chico o importante e a “única verdade a conquistar é a de que todos os homens têm direito a comer”. Tudo o que Alberto Soares lhe conta é conversa da idade da pedra lascada.
Alberto Soares deseja um humanismo que seja “uma consciência, uma plenitude”
Carolino defende os princípios do seu mestre e mostra ter compreendido tudo, o que muito surpreende Alberto Soares.



7º CAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos Reflexões

Continuação das lições a Sofia Há uma vida atrás da vida, uma irrealidade presente à realidade.
Aventura amorosa com Sofia “A descoberta de nós mesmos, a descoberta da gratuidade do milagre de sermos”

ESTRUTURA
Alfredo Cerqueira brinca com Alberto Soares ao vê-lo dar pão a um cão. O narrador percebe que toda a conversa do dia anterior fora comentada por Chico, no jantar em casa do Cerqueira. Para Sofia e Ana as palavras de Alberto Soares são esclarecedoras, mas Cerqueira não percebeu nada.
Cerqueira leva Alberto ao Liceu e diz-lhe que Ana quer falar com ele.
Importância do estado do tempo para o narrador: “a chuva tem para mim o abalo da revelação”.
Reflexões sobre o presente e o passado.
Alberto Soares vai dar lição a Sofia, num dia de muita chuva. Esta espera-o toda vestida de preto. Alberto Soares deixa-se seduzir pela imagem de Sofia e agarra-lhe as mãos.
Recomeça a lição mas Sofia não a deseja e revela a Alberto Soares ter já percebido a perturbação que lhe causa. Sofia beija-o e revela-lhe total compreensão sobre a conversa que este havia tido com o Chico.
Alberto Soares mergulha numa profunda intimidade com Sofia que lhe surge agora como “uma beleza demoníaca, uma criança assassina (...) a boca ávida e sangrenta. E um apelo de uma união trágica e blasfema subiu-me pelo corpo”.
Deram enfim a lição sobre o canto IV da Eneida.

8ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos Reflexões

Depois da aventura amorosa, Alberto Soares deambula perturbado e reflecte sobre o vazio da sua vida.


ESTRUTURA
Alberto Soares sai de casa de Sofia muito perturbado
“Será pois vão tudo o que sonho?”
Surge-lhe a imagem de Sofia e o narrador sente vontade de a ver de novo.
Regresso a casa de Sofia. Esta esperava-o, sabia que ele voltaria
Madame Moura observa-o e pergunta-lhe “como vai a nossa estudante”. Recorda-lhe ainda a sua condição de professor e a distância entre ele e Sofia.

9ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos Reflexões

Aulas diárias no Liceu “Fixar a vida em torno de uma ideia, de um sentimento, como é difícil”
Visita a casa de Alfredo Cerqueira.
Conversa com Ana.
Jantar com a família Cerqueira.
“Trago comigo a destruição dos mitos que inventaste, desses sofás em que instalaste o teu viver quotidiano” “Deus morreu. Deus não é a minha meta” “Interrogo-me porque a morte é um muro sem portas” “Essa é a base última de um verdadeiro humanismo: instalar o homem mesmo nos aposentos divinos”

Acção Secundária

Narração da situação religiosa da família
A descoberta de si próprio e a morte
Narração da história da sua vida: crente, de Deus.
perdeu a fé, fez-se político, abandonou a política, esteve desempregado, grau zero. Descobre que está vivo, nada mais.

ESTRUTURA
Instala-se o quotidiano, “e a vida recomeçou”, “o cão espera o osso”

Caminho para o Liceu: descrição dos “Aldrabões de Feira”- Pobre feira da ladra- (a vida)
Encontro com Cristina, no caminho. O narrador é informado de que Ana se encontra doente.
Visita a Ana.
Ana quer saber o que há entre Alfredo e Sofia.
Discutem-se as ideias de Alberto sobre religião. Ana discorda dele e acha que essas ideias podem mudar certas pessoas.

Alberto fala das relações da sua família com a religião:
- Pai- ateu
- Mãe- beata
- Evaristo- Blasfemava como um espanhol
- Tomás- não ia à missa mas não dizia mal dos padres.
- Alberto- Tornou-se ateu porque “o padre ia a nossa casa e arrotava. Depois soube que tinha filhos” Deixou de ir à missa e deixou de rezar. Não lhe aconteceu nada. Afinal Deus não existe”

Descrição do seu percurso a nível das ideias:

“Depois fui político”, mas essas ideias esbateram-se com o passar dos anos.
Atinge então o grau zero e descobre apenas que está vivo, que existia, que era ele.
As reflexões são interrompidas pelo gato preto. Ana serve-lhe um whisky.
Ana pretende retomar a conversa e chamar-lhe pantomineiro. Acha que ele finge tudo aquilo porque “Deus vive no seu sangue” Diz-lhe ainda que não pense que a sua conversa pode perturbar alguém e retoma a conversa sobre Sofia e os seus casos amorosos.
Alberto dispõe-se a partir mas Alfredo chega e retoma a conversa de banalidades. Fala-se na morte do Bailote. A família deste responsabiliza o Dr. Moura pela sua morte.
Alberto mal o ouve. Pensa em tudo o que Ana lhe disse e sente-se incomodado. Abstrai-se e pensa em Sofia, ela não é o que a irmã pensa (“Sofia é maior do que a tua vilania”)
Alfredo resolve mostrar a casa a Alberto, em especial a cama e o colchão.
Chega Chico. Alfredo vai também mostrar-lhe o colchão.
Alberto quer de novo partir. É convidado para jantar. Quando pretende recusar Ana chama-lhe cobarde pois percebe que perturba Alberto e que ele quer sair por causa disso.
Descrição do jantar: Alberto sente-se incomodado. A mesa é demasiado grande, a sala parece pouco acolhedora, a conversa desagrada-lhe. Ninguém o pode compreender.
Fala-se do “Comité de Salvação”, um grupo de amigos que se reune para “redimir o homem de hoje e preparar o homem de amanhã”.
Chico ridiculariza as ideias de Alberto: “È exactamente por isso que nos irrita que alguém nos venha ainda com notícias dos deuses e da água benta”.
Retoma-se a conversa. Alberto afirma-se materialista porque não pode atribuir as culpas aos deuses.
A conversa é interrompida por um telefonema de Cristina para saber o estado de saúde de Ana. Fala-se da presença de Alberto no jantar. Ana diz a Alberto que Sofia perguntou por ele.
Põe-se música. Alfredo cabeceia com o excesso de álcool. Chico pergunta a Alberto se já foi crente.
Alberto retoma a conversa, afirma que deixou de ser crente há sete anos mas Ana interrompe a conversa.
Chico mostra uma certa hostilidade em relação a Alberto e numa espécie de aviso diz-lhe: “Você é responsável por tudo quanto acontecer” e afasta-se.
Alberto vai sozinho para casa. É de noite, as ruas estão desertas, reina o silêncio.
Alberto encontra o pobre do Manuel Pateta como sempre já bêbado.
O narrador recorda com relutância que terá ainda que ir dormir à Pensão do sr. Machado, que este lhe fará mais um sermão. De novo mostra o desejo de ir morar para a Casa do Alto, sozinho, onde ninguém o poderá incomodar.

10ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos Reflexões

Aulas diárias no Liceu “Mas eu sabia, eu, que luto há tanto tempo. Novo encontro com Carolino por reconduzir à dimensão humana tudo quanto traz ainda um rasto divino (...), eu,que sou materialista mas não só de um materialismo que se mede a metro, pesa na balança, eu, que sonho com o reinado integral do homem na terra da sua condenação e grandeza”.

ESTRUTURA

Alberto Soares mostra-se entusiasmado com a sua profissão, com os novos métodos que vai experimentando.
O Reitor resolve conversar com ele e avisa-o de que é preciso ter cuidado com a cidade e com o meio. Algumas dessas inovações de Alberto poderão ser mal interpretadas pelo meio.
Carolino resolve procurá-lo.
Alberto e Carolino vão dar um passeio pelo campo.
Carolino fala na destruição da linguagem.
Alberto Soares tenta compreendê-lo. Utiliza-se uma prolepse em que o narrador afirma: “Eu, porém, não queria envenenar-te, ao contrário do que depois de afirmou”.
Carolino fala do homem que se enforcou e expõe algumas ideias que parecem aterradoras:”já não há deuses para criarem e assim o homem (...) é que é deus porque pode matar”.
Alberto afirma que “a vida é um milagre fantástico”.
Carolino acha que pode compreender muito bem um assassino.
A conversa foi interrompida por um porco que lhe saltou no caminho.
Ambos observam a natureza que os rodeia, os vários animais, o rebanho que o cão guarda.
O cão aproxima-se deles. Agarram em pedras para se defenderem. Carolino atira uma pedra, erra a pontaria e mata uma galinha. Fica fascinado ao olhar para a galinha morta. Indícios de que Carolino tem uma personalidade perturbada.

11º CAPÍTULO
Acção Secundária/ Acontecimentos Reflexões

Férias na aldeia “O Natal não é de nunca porque nunca foi do presente”
Morte do cão Mondego

ESTRUTURA

Primeiro Natal depois da morte do pai. Quebra-se a tradição da família toda reunida. Alberto Soares afirma preferir ficar sozinho: “Para mim não faz diferença: estou eu e aquilo que me povoa”. António vai esperá-lo à estação e manifesta o desejo de lhe contar as novidades. Alberto não quer ouvir, quer apenas pensar.
Chegada a casa. Não se vê ninguém. A mãe está deitada. Encontra-se cansada e sem energia. Ele pensa que a mãe está doente.
Ao jantar a mãe pergunta-lhe as novidades mas parece pouco interessada e habituada já ao silêncio.
A casa está triste e silenciosa, Alberto recorda a infância e o cão Mondego. Recorda o desgosto que sentiu pela morte do cão- 1ª imagem da morte.

12ºCAPÍTULO

Acção Secundária/Acontecimentos Reflexões

Visita de Tomás Reflexões sobre a morte
Ceia de Natal “Estou só e sinto-me bem”

ESTRUTURA
Alberto Soares é acordado pelo sol e apercebe-se da rotina que o envolve.
Ao ouvir uma buzina espera reaver todo o quotidiano familiar, espera o som de outras vozes mas é apenas Tomás que chega.
Quebrou-se o hábito familiar. Tomás é agora o chefe da família, “fala paternalmente” com Alberto.
1ºNatal em que a família não se reune.
Fala-se das partilhas e do estranho estado em que a mãe se encontra.
Descrição da ceia de Natal, um momento triste e cheio de ausências em que Alberto Soares fica sozinho com a sua mãe, sob um imenso silêncio.

13ºCAPÍTULO
Acção Secundária/Acontecimentos Reflexão

Episódio das partilhas Reflexão sobre a tranquilidade do
seu irmão Tomás.
A aparição de nós a nós próprios.

ESTRUTURA
Tomás e Alberto levam a mãe à missa e ficam a conversar.
Alberto ouve os cânticos de Natal e considera-os “lavados na sua pureza de um início absoluto, inventados em inocência e em confiança perene”. Não sente saudades do passado mas sonha o sonho.
Os cânticos não significam nada mais que um ritual para os que estão dentro da igreja, esses limitam-se a cantá-los.
Crítica da mãe: “Nem no dia de Natal” os seus filhos assistiram à missa.
Tomás conversa com Alberto e descreve a sua tranquilidade de vida: “Eis-te nos teus domínios (...) como um belo patriarca”.
Almoço em casa dos sogros de Tomás.
Tomás e Alberto, duas realidades diferentes... Alberto considera Tomás um ser “adormecido nesta quietude da terra” que no fundo não sabe “que é mortal”. Tomás acha que Alberto deve ir à missa, que é a sua última tarefa. Alberto não compreende as reflexões que Tomás faz sobre os filhos mas ao vê-los reunidos no almoço compreende finalmente toda a filosofia de vida de Tomás. Ele era de um mundo diferente mas vivia tranquilo.
Chegada de Evaristo com a família.
Conversa sobre as partilhas. Alberto Soares fica incomodado com a conversa e deixa que Evaristo e Tomás resolvam tudo.
Desmembramento da família. Por causa das partilhas “Evaristo cortou relações connosco”.

14ºCAPÍTULO

Acção Principal/Acontecimentos Reflexões

Regresso a Évora e instalação na pensão “O espantoso milagre de estar vivo
Eborense e o incrível absurdo da morte”
Visita a Sofia sem sucesso “Uma vida é coisa séria: uma tese não se medita, fala-se, lê-se, discute-se”
Encontro com Alfredo, Ana e Sofia no café da praça.

ESTRUTURA
Prolepse: A minha história espera-me mais terrível do que nunca, disparando para o seu desfecho.
A pensão Machado fechou. O narrador instala-se na Eborense. Sugere-se apenas que o fecho da pensão se deve a motivos políticos mas a razão mantem-se desconhecida.
Alberto Soares manifesta o desejo de tirar a carta (ideia que lhe surgiu com o sorteio dos bens).
Sente saudades de Sofia e procura-a em casa mas Lucrécia informa-o de que ela não está.
Na Praça encontra Ana e Alfredo e dirigem-se ao café onde também irá ter Sofia. Alberto encontra a oportunidade tão esperada de a rever.
Ana pergunta a Alberto se durante as suas férias aprofundou as suas “teses”.
Alfredo interrompe a conversa com uma “grossera ofensiva”
Chegada de Sofia: “ E ela veio enfim...” mas disse apenas “olá” e anunciou que vinham também Chico e Carolino.
Alberto sente-se perturbado mas não o demonstra. Fica sem palavras: “tudo o que eu dissesse estava a mais”
Carolino está comprometido na presença de Alberto. Instala-se ao pé de Sofia. Alberto sente que há algo entre os dois: “Estais pois unidos secretamente...”
Alberto anuncia a sua mudança para a Casa do Alto. Ana compreende a sua necessidade de se isolar e poder meditar em sossego.
Alberto assume o facto de ter ido a casa do Dr. Moura apenas para procurar Sofia. Mas há algo que se relaciona com as lições de latim, de que ele ainda não sabe.

15ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos Reflexões

Advertência de Alberto Soares pelo Reitor “Toda a mulher é um homem não realizado”
Alberto Soares procura descobrir que contou a sua aventura amorosa
Alberto Soares aluga a casa de S.Bento
Alberto Soares sai com Sofia
Alberto recebe de Sofia a revelação de que foi ela quem o denunciou ao Reitor.

ESTRUTURA

O Reitor manda chamar Alberto e fala-lhe nas lições particulares a Sofia.
“Temos inimigos, todos temos inimigos” (...) “todos temos inimigos, era preciso cuidado com os inimigos”
Alberto vai a casa de Sofia e Lucrécia diz-lhe que Sofia está a dar lição. Alberto fala com Madame e esta diz-lhe que Bexiguinha está a ajudar Sofia.
A conversa é interrompida pela música de Sofia.
A vida de aulas recomeça. O narrador reflecte sobre a vida da cidade. “ò cidade estranha, cidade velha (...) cidade milenária”
Alberto muda de casa e recebe um bilhete de Sofia a pedir-lhe que se encontre com ela no Museu.
O pretexto para o encontro foi um convite para almoçar de Alfredo. O convite é para ir à Sobreira.
Sofia resolve sair do Museu com Alberto e vão passear de carro até um descampado.
Sofia seduz Alberto e diz-lhe que afinal veio ter com ele para lhe explicar o que se passara nas férias.
Explica-se a relação entre Sofia e Bexiguinha. Este é visto como o duplo.
Sofia afirma ter denunciado Alberto.


16ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos
Visita à quinta da Sobreira

ESTRUTURA
Alberto chega tarde mas todos mostraram interesse pela sua demora.
Alfredo mostra-se de novo um homem terra-a-terra e tenta falar de porcos.
Alberto fala no silêncio que deseja ter na nova casa.
Chico mostra um certo desdem por Alberto e informa-o de que já não se poderão realizar as conferências.
Alberto estranha a ausência de Cristina e é informado de que ela não veio por estar doente.
Alberto fala com Carolino sobre a sua desistência do Liceu mas o Carolino mostra-se irritado.
Fica em aberto o Carnaval no Redondo.


17ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos Reflexões

Instalação na casa do Alto “Só se é homem assumindo tudo o que fale
em nós.”
“O que me excita a escrever é o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo
pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu”.
“Sou. Jacto de mim próprio, intimidade comigo, eu, pessoa que é em mim,
absurda necessidade de ser, intensidade absoluta no limiar da minha aparição em mim”.

ESTRUTURA

Descrição da Casa do Alto.
Reflexões de Alberto: “ A massa de amigos com que fui fraternizando através da vida despreza-me com náuseas”.
“Só se é homem assumindo tudo o que fale de nós”
Alberto arruma a casa e revê o album da tia Dulce. Lembra-se que todos aqueles já morreram. Apesar do seu cansaço todos se mantêm vivos na sua memória: “Mas agora ainda estais vivos, ainda alguém, eu, aqui, silencioso nesta casa solitária, vos liga à vida que freme para lá destes muros na Primavera anunciada(...)”
O narrador lembra uma visita que Sofia lhe fez. Escreve há distância de alguns anos: “Minha mulher dorme”.

18ºCAPÍTULO

Acção Principal/Acontecimentos

Ida ao Carnaval ao Redondo
Desastre com o jeep de Alfredo
Morte de Cristina

ESTRUTURA

Alberto pergunta a Cristina se quer viajar com ele mas ela prefere ir com Alfredo.
Sofia e a mãe viajam com Alberto
Cristina está feliz no seu fato de holandesa, atira serpentinas e enfeita os carros.
Bexiguinha espera-os no Redondo.
Descrição dos mascarados.
Lanche em casa do Bexiguinha.
Regresso a Évora. “Alfredo comeu e bebeu alegremente. Tem a face rubicunda do prazer carnudo”.
Alberto apercebe-se de que Chico e Alfredo estão na estrada, cheios de sangue, devido ao desastre. Cristina respira ainda. Ana, em silêncio, agarra a irmã e leva-a ao colo, no carro de Alberto, para o hospital. O caminho parece demasiado longo, não tem fim. Chegam ao hospital. Não se encontra o Dr. Moura.
Alberto procura o Dr. Moura na Igreja: “Moura desagravava o Senhor dos pecados de Carnaval”
Alberto vai ao pé de Cristina e assiste à sua morte. Cristina mexe os dedos, como se tocasse uma “música do fim, a alegria subtil desde o fundo da noite, desde o silêncio da morte”.

19ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos Reflexões

Visita de Carolino ao Dr. Alberto e tentativa “Não procures a noite por não suportares
de assassinato. o dia. Leva para o sol a tua aparição e serás um homem”

ESTRUTURA

Alberto tenta falar com Ana, com o Dr. Moura, mas não encontra ninguém.
Numa noite de forte chuva Carolino visita Alberto na Casa do Alto. Mostra-se enlouquecido e enraivecido.
Alberto não mostra medo de Carolino e revela firmeza no seu comportamento. No fundo acha que o rapaz enlouqueceu.
Carolino afirma: “Eu não tenho medo. De nada. Mesmo da morte, o senhor tem medo da morte, a morte é a gente antes de ter nascido...” Aponta então uma navalha a Alberto Soares. Este revela um comportamento surpreendente. Sente-se cheio de uma força brutal “e na raiva que se apossara de mim, esbofeteei o rapaz até me estafar. Mas eu sentia obscuramente que apenas me esbofeteava a mim”.
Prolepse: “Porque sei agora que o teu crime não era contra mim, não seria contra ela. O teu crime era contra a vida, contra o absurdo que te assolou”.
Carolino parte finalmente.

20º CAPÍTULO

Acção principal/Acontecimentos Reflexões

Alberto é convidado pelo Reitor a deixar “Terei pois, como destino, esta agitação constante, Évora por causa do escândalo que corre esta sufocação de nada?”
pela cidade.
Encontro casual com Ana.

ESTRUTURA

O narrador acha que deveria ter contado a alguém o que se passara com carolino, mas não o faz.
Alberto continua a procurar alguém mas não encontra.
Conversa com o Reitor. Este quer saber se Alberto sai ou não de Évora porque “os ditos chegam sempre, a gente não quer ouvir, mas ouve, não tem outro remédio (...) a gente julga que está procedendo bem, mas é preciso sabermos com quem falamos”.
Alberto encontra Alfredo. Este mostra-se simpático e dá a Alberto notícias da família. Mostra conhecer ou saber o que se passara entre Alberto e Carolino. Fala do sofrimento de Ana e do seu desejo de estar só. Ana sofria “de uma crise”. Sofia partira para Lisboa para uma casa de freiras.
Alberto entra na Sé devido à forte chuva que se faz sentir e encontra Ana. Esta diz precisar daquele silêncio. Lembra o local onde estivera a urna de Cristina e começa a falar, transfigurada, da morte. Percebe que em Cristina havia várias personalidades: a que morreu vestida de holandesa, a que tocava; revela necessidade de estar ali, naquela igreja, porque ali é o lugar “que tem uns restos do que é importante”, é “um lugar onde se ouve bem”.
A chuva pára e saem ambos da Igreja. Alberto acompanha Ana até ao largo.

21ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos Reflexões
Alberto é visitado por Chico que o responsabiliza “Duas verdades vividas não podem estabelecer um diálogo”
pelas suas ideias perversas.

ESTRUTURA

Chico visita Alberto, num Domingo de manhã. Estava violento em palavras e atitudes: “ bateu à porta com violência, a violência categórica de quem vem por ordem da justiça”. Quer saber se Alberto se vai embora de Évora.
Alberto fica incomodado por achar que ele não tem nada a ver com isso. Tenta, no entanto, falar com ele com calma.

22ºCAPÍTULO

Acção Pincipal/ Acontecimentos Reflexões
Partida para férias e estadia na aldeia um ou dois dias “Quue maldição pesa sobre a assunção do
nosso destino? Sobre o nosso confronto connosco mesmos? Sobre a evidência da nossa condição?”

ESTRUTURA
Alberto vai viajar pelo país: Lisboa, Sintra, Praia da Areia Branca, Leiria, Figueira, Aveiro, Porto, Vila Praia de Âncora, Amarante, Vila Real. “Desço enfim à minha aldeia”- o tempo mudou. É Primavera, o mês de Abril. A mãe vive a sua solidão: “Somos a mesma carne, o mesmo calor de sangue, dizem-me que me pareço contigo, no olhar ao menos: estamos sós e definitivos aqui à face um do outro”.
Alberto não vê os irmãos e passa pouco tempo na aldeia.


23ºCAPÍTULO

Acção Principal/Acontecimentos

Regresso a Évora, ao Liceu.
Visita à Quinta da Bouça
Encontro com Sofia
Alberto fala dos mistérios do Universo

ESTRUTURA

Mês de Maio, “O Verão chegou à cidade”. Alberto continua a não ver ninguém. De vez em quando cruza-se com o Dr. Moura que “finge não o ver” ou o sauda discretamente”.
Encontro com Alfredo que lhe dá notícias dos outros e o convida a ir a sua casa.
Alfredo convida Alberto para ir à herdade e dá-lhe notícias de Sofia. Informa-o de que Sofia tentou de novo o suicídio. O Dr. Moura parece preocupado com o futuro de Sofia.
Alberto quer saber notícias de Ana mas Alfredo repete-lhe o convite para ir à herdade.
Num dia de grande calor Alberto vai à Quinta da Bouça, depois de ter dado uma manhã de aulas. Passa no local onde Cristina morreu.
Passa também pelos ceifeiros e perturba-se: “diante de mim, em fila, como em marcha de penitência, homens e mulheres, cosidos com a terra, ceifam uma seara”: “agora sois só os escravos da maldição- maldição dos homens que se enojam de ter as vossas tripas, os vossos ossos.
Alberto vê Ana a ler com duas crianças junto dela e surpreende-se. Percebe que são filhos do Bailote, os dois mais novos. Ana está absorvida com as crianças e com o livro, Alfredo diz que ela é feliz.
Ana fala com Alberto sobre as crianças: “É extraordinário como no corpo destes pequenos há uma pessoa viva, um todo independente, como uma consciência brutal da sua individualidade”.
Sofia aparece e fala com normalidade dos seus projectos, do exame que vai fazer, da sua vida.
Jantam ao ar livre e Alberto continua a observar os ceifeiros.
Alfredo propõe a Alberto que no seu regresso leve consigo Sofia.
Sofia conversa e diz “sou corajosa e não tenho ilusões”. Depois pede-lhe para parar no local onde Cristina morreu e canta. Pede a Alberto para a levar a sua casa.
Alberto e Sofia passam a noite juntos, ficam a ver as estrelas e o universo. Sofia canta de novo mas Alberto sente-se perturbado.
Sofia visita algumas vezes Alberto e subitamente desaparece.


24ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acção Principal Reflexões

Ana torna-se fanática
Notícia da “suposta morte de Chico” “Mas eu queria soluções para toda a vida, eu queria uma certeza assumida, assimilada, para a ameaça de morte”.
“Toda a ambição do narrador tinha sido trazer para a condição do homem, uma condição de Deus”.

ESTRUTURA

Alguém informa Alberto de que Chico morreu mas de facto ele está apenas doente.
Alberto visita Chico e encontra Ana e Alfredo. Chico está perturbado: “Um doente é um ser em decadência”.
Alberto pensa na vida e lembra-se de Florbela Espanca: “para lá do muro gradeado do jardim, Florbela continuava a sua meditação.

25ºCAPÍTULO

Acção Principal/ Acontecimentos Reflexões

Alberto Soares recebe no Liceu um telefonema ameaçador: “O que enfrenta o meu cansaço, o “Só você é responsável. Só Você” que afoga a minha interrogação é esta fácil desautorização da morte”

ESTRUTURA

Noite de S. João, “noite cálida de bruxas e de sonhos”. Festa na praça, noite de feira no Rossio.
Alberto cruza-se com Ana. Esta pergunta-lhe por Sofia. A última vez que Alberto vira Sofia esta estava com Carolino, “num banco secreto do jardim”.
Alberto continua a observar a confusão dos palhaços e dos trapezistas e cruza-se de novo com Ana e Alfredo. Este diz-lhe que se vir Sofia a informe que estão todos no café Luso.
Alberto recorda um telefonema ameaçador que recebeu no Liceu.
Á distância da escrita o narrador afirma: “para que insistir na minha inquietação (...) como quem quer retardar um efeito teatral? Na realidade, no dia seguinte (...) Sofia apareceu num caminho (...) assassinada a punhal”.

C0NCLUSÃO

Alberto, o narrador dá-nos conta da sua partida para Faro.
Chico considera Alberto responsável pela morte de Sofia, tal como já havia afirmado.
Alberto sente-se responsável e assume essa responsabilidade: “ Se algum crime houve em mim foi só o ter nascido”.
Tal como à chegada a Évora, na partida, é Manuel Pateta quem o ajuda a carregar as malas.
O Reitor dispensa Alberto do serviço de exames.
Última noite na Casa do Alto. Alberto surpreende-se com a magia da “queimada”, o incêndio do restolho para a renovação da terra. Imagina toda a cidade a arder. Sente emoção: “Cidade , minha cidade...” A noite avança, a minha cidade arde sempre”. “Acaso será possível construir uma cidade como a imagino, a Cidade do Homem?”
O homem deve construir o seu reino e achar o seu lugar na verdade da vida.
Alberto relembra sempre a música de Cristina.
Alberto “compreende” a loucura de Bexiguinha.
O narrador, à distância de alguns anos casou, adoeceu e retirou-se do ensino.
Na solidão da noite, ao luar, o homem sonha...