Novela de paixão amorosa, talvez a mais intensa e profunda que se escreveu na Peninsula Ibérica.
Duas famílias nobres, moradoras em Viseu, os Albuquerques e os Botelhos, odeiam-se por causa dum litígio em que o juiz Domingos Botelho deu aos primeiros uma sentença desfavorável. Mas Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, ainda na adolescência apaixonam-se. Teresa estava prometida a Baltasar Coutinho, seu primo, que despeitado, leva o pai de Teresa, Tadeu de Albuquerque, a encerrá-la no convento de Monchique, no Porto. Simão espera-os à saída de Viseu, luta com Baltasar e, enfurecido pela insolência do rival, mata-o a tiro, entregando-se à justiça. Condenado à forca, a sentença é comutada, por diligência de Domingos Botelho. Simão é transferido para a cadeia da Relação do Porto, e deverá ser degradado para a India. Entretanto, minada pela desgraça, Teresa encontra-se moribunda. Quando parte a nau dos condenados, Simão ainda a vê dizer-lhe adeus do mirante do convento, mas, devido ao mau tempo, a nau pára em frente de Sobreiras, e Simão, horas depois, sabe da morte da amada. Ao décimo dia de viagem, morre também. Na novela há ainda um amor infeliz e sublime: o de Mariana, filha do ferrador João da Cruz. Abnegada e sem esperança, serve de intermediária entre Simão e Teresa, e sozinha no mundo, após o assassínio do seu pai, acompanha Simão ao exílio. Quando este morre suicida-se.
Simão - Belo, moço, desempenado e viril, caracteriza-se a princípio como um génio turbulento, que o leva a desdenhar dos pergaminhos da família e a conviver com os desordeiros de Viseu, gentalha da plebe. Mas, o amor por Teresa transfigura-o a ponto de vir a encarnar um ideal humano. Conservando um feitio colérico, revoltado e indomável, Simão revela, no decorrer da história, nobreza de carácter que transparece, por exemplo, no modo como censura João da Cruz, quando este mata um criado, já ferido, de Baltasar Coutinho, ou ainda na constante ingratidão que devota ao ferrador e a Mariana. Por lealdade, após matar Baltasar, entrega-se à justiça e confessa no tribunal a causa do crime. Por altivez e nobreza, recusa os favores tardios do pai, rejeitando a graça de poder cumprir a pena em Vila Real, preferindo o degredo. Este homem de ferro, impávido nos momentos decisivos e obstinado na desgraça, suscita a admiração num desembargador: “Há grandeza neste homem de dezoito anos, Senhor Albuquerque”. Camilo identificou-se com o herói e fez dele um grande poeta amoroso, um grande romântico sobretudo nas cartas de amor que envia a Teresa e nas quais desabafa ressentimentos, ódios e a nostalgia de sonhos impossíveis.
Teresa é a grande heroína, “uma menina de quinze anos, rica herdeira, regularmente bonita e bem nascida. Possuía uma grande força de carácter, um orgulho fortalecido pelo amor, e um pouco de astúcia. Encarna a paixão amorosa pura e obstinada. É uma figura consumida, estática por trás da janela do convento, vítima insubmissa dos homens e do Destino, de olhos postos na justiça do céu, na justiça divina.
A obra é pois um conflito entre o amor e os preconceitos de pais inflexíveis, desumanos no seu orgulho. Um caso de rivalidade que, gerando o ódio e a vingança, conduz ao crime. Um exemplo romântico do poder transfigurante do amor. Desordeiro, dado às piores companhias, Simão torna-se um homem digno, com uma sensibilidade de poeta. Simão sabe-se marcado por um destino, luta sem esperança, recusa complacências, avança com altivez para o abismo, cumpre-se como herói, daí o sentido trágico da novela.
Esboço Biográfico
Camilo Castelo Branco teve uma vida atribulada, passional e impulsiva. Uma vida tipicamente romântica.
Foi órfão de mãe quando tinha um ano de idade e órfão de pai quando tinha dez anos, o que lhe criou um carácter de eterno insatisfeito com a vida. Estando órfão, foi recebido por uma tia de Vila Real, e depois por uma irmã mais velha em Vilarinho de Samardã, em 1839 recebendo uma educação irregular através de dois padres de província.
Na sua adolescência formou-se lendo os clássicos portugueses e latinos, lendo literatura eclesiástica e em contacto com a vida ao ar livre transmontana.
Aos dezesseis anos contrai matrimónio com Joaquina Pereira que cedo abandona. O seu carácter instável e irrequieto leva-o a amores tumultuosos (Patrícia Emília, a freira Isabel Cândida).
Ainda a viver com Patrícia Emília de Barros, Camilo publicou n'O Nacional, correspondências contra José Cabral Teixeira de Morais, governador civil. Devido a esta desavença é espancado pelo «Olhos-de-Boi», capanga do governador. As suas irreverentes correspondências jornalísticas valeram-lhe, em 1848, nova agressão a cargo de Caçadores 3. Camilo abandona Patrícia nesse mesmo ano, fugindo para casa da irmã, residente agora em Covas do Douro.
Camilo tenta cursar medicina no Porto. A partir de 1848 faz uma vida de boémia, repartindo o seu tempo entre os cafés e os salões burgueses, dedicando-se no entanto ao jornalismo.
Apaixona-se por Ana Plácido, e quando esta se casa, tem, de 1850 a 1852, uma crise de misticismo, chegando a cursar o seminário que abandona. Ana Plácido é mulher de um negociante chamado Pinheiro Alves, um brasileiro (daí aparecer a personagem tipo do brasileiro tantas vezes nas suas novelas, quase sempre de maneira depreciativa). Ele seduz e rapta Ana Plácido e, depois de algum tempo a monte, são capturados pelas autoridades e julgados. Este caso emocionou a opinião pública pelo seu conteúdo tipicamente romântico do amor contrariado que se ergue à revelia das convenções sociais. Ficam presos na cadeia da relação do Porto, onde escreveu Memórias do Cárcere, tendo conhecido o famoso delinquente Zé do Telhado. Depois de absolvidos do crime de adultério, Camilo e Ana Plácido passam a viver juntos.
Entretanto Ana Plácido tem um filho, de origem incerta, teoricamente de seu antigo marido Pinheiro Alves, ao que se somam mais dois de Camilo. Com uma família para sustentar Camilo vai escrever a um ritmo alucinante.
Quando o ex-marido de Ana Plácido, Pinheiro Alves, falece em 1863, o casal vai viver para a sua casa, em São Miguel de Seide. Em 1885 obtém o título de visconde de Correia Botelho. Em 9 de Março de 1888 casa-se com Ana Plácido.
Camilo passa os últimos anos da sua vida ao lado de Ana Plácido. No entanto, não encontra a estabilidade emocional por que anseia. As dificuldades financeiras são muitas e os filhos dão-lhe enormes preocupações: considera Nuno irresponsável e Jorge sofre de uma doença mental. A progressiva e crescente cegueira (causada pela sífilis), impede Camilo de ler e de trabalhar capazmente, o que o mergulha num enorme desespero. Às 15h15 de 1 de Junho de 1890, depois da visita de um oftalmologista que lhe confirmara a gravidade do seu estado, Camilo desfere na têmpora direita um tiro de revólver, acabando por morrer às 17h00 do mesmo dia.
Camilo Castelo Branco teve uma vida atribulada, passional e impulsiva. Uma vida tipicamente romântica.
Foi órfão de mãe quando tinha um ano de idade e órfão de pai quando tinha dez anos, o que lhe criou um carácter de eterno insatisfeito com a vida. Estando órfão, foi recebido por uma tia de Vila Real, e depois por uma irmã mais velha em Vilarinho de Samardã, em 1839 recebendo uma educação irregular através de dois padres de província.
Na sua adolescência formou-se lendo os clássicos portugueses e latinos, lendo literatura eclesiástica e em contacto com a vida ao ar livre transmontana.
Aos dezesseis anos contrai matrimónio com Joaquina Pereira que cedo abandona. O seu carácter instável e irrequieto leva-o a amores tumultuosos (Patrícia Emília, a freira Isabel Cândida).
Ainda a viver com Patrícia Emília de Barros, Camilo publicou n'O Nacional, correspondências contra José Cabral Teixeira de Morais, governador civil. Devido a esta desavença é espancado pelo «Olhos-de-Boi», capanga do governador. As suas irreverentes correspondências jornalísticas valeram-lhe, em 1848, nova agressão a cargo de Caçadores 3. Camilo abandona Patrícia nesse mesmo ano, fugindo para casa da irmã, residente agora em Covas do Douro.
Camilo tenta cursar medicina no Porto. A partir de 1848 faz uma vida de boémia, repartindo o seu tempo entre os cafés e os salões burgueses, dedicando-se no entanto ao jornalismo.
Apaixona-se por Ana Plácido, e quando esta se casa, tem, de 1850 a 1852, uma crise de misticismo, chegando a cursar o seminário que abandona. Ana Plácido é mulher de um negociante chamado Pinheiro Alves, um brasileiro (daí aparecer a personagem tipo do brasileiro tantas vezes nas suas novelas, quase sempre de maneira depreciativa). Ele seduz e rapta Ana Plácido e, depois de algum tempo a monte, são capturados pelas autoridades e julgados. Este caso emocionou a opinião pública pelo seu conteúdo tipicamente romântico do amor contrariado que se ergue à revelia das convenções sociais. Ficam presos na cadeia da relação do Porto, onde escreveu Memórias do Cárcere, tendo conhecido o famoso delinquente Zé do Telhado. Depois de absolvidos do crime de adultério, Camilo e Ana Plácido passam a viver juntos.
Entretanto Ana Plácido tem um filho, de origem incerta, teoricamente de seu antigo marido Pinheiro Alves, ao que se somam mais dois de Camilo. Com uma família para sustentar Camilo vai escrever a um ritmo alucinante.
Quando o ex-marido de Ana Plácido, Pinheiro Alves, falece em 1863, o casal vai viver para a sua casa, em São Miguel de Seide. Em 1885 obtém o título de visconde de Correia Botelho. Em 9 de Março de 1888 casa-se com Ana Plácido.
Camilo passa os últimos anos da sua vida ao lado de Ana Plácido. No entanto, não encontra a estabilidade emocional por que anseia. As dificuldades financeiras são muitas e os filhos dão-lhe enormes preocupações: considera Nuno irresponsável e Jorge sofre de uma doença mental. A progressiva e crescente cegueira (causada pela sífilis), impede Camilo de ler e de trabalhar capazmente, o que o mergulha num enorme desespero. Às 15h15 de 1 de Junho de 1890, depois da visita de um oftalmologista que lhe confirmara a gravidade do seu estado, Camilo desfere na têmpora direita um tiro de revólver, acabando por morrer às 17h00 do mesmo dia.
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