APARIÇÃO
O homem deve viver um percurso interior que o conduza a uma reflexão sobre a vida. Antes do mais o homem será tudo aquilo que tiver projectado ser, e não o que ele quiser ser, logo o homem é apenas o que ele faz de si próprio e nele cabe toda a responsabilidade da sua existência. Na obra Aparição, o autor pretende apresentar a relação do homem com a ordem universal, através do encontro do indivíduo com o seu “eu” metafísico e profundo. Alberto Soares, que protagoniza essa busca do homem em si mesmo, chegará à conclusão de que é impossível fixar os momentos de “aparição” ao nível da afectividade. Também Carolino procura a totalidade do “eu” que o conduzirá ao assassinato de Sofia, visto que se perpetuará nele para além da vida aparente e sujeita ao tempo. Alberto Soares compreenderá a ordem universal e Carolino irá tentar ir para além dela. Assim só o homem é responsável por si próprio e quando os valores por que nos guiamos são vagos, resta-nos guiarmo-nos pelo instinto. Todos os sentimentos se constroem com base no que se pratica. Amor e verdade são coisas problemáticas e inatingíveis na ordem do mundo mas que o narrador encontra ao lado da sua mulher que, aparentemente sombra da sua existência, constrói com ele essa totalidade.
Alberto Soares é o protagonista do romance , a personagem central e o narrador da história. É o herói que narra mas não o faz numa posição omnisciente e imperturbável, mas inquieta-se e comove-se intimamente com o que narra. Não é um simples espectador, é uma testemunha. Espanta-se, alarma-se com o mistério do que existe e consigo mesmo (o ambiente de classe média de província, o carácter impulsivo e a crueldade de Sofia, a mediocridade dissimulada de Ana, a luta social de Chico, a afirmação destrutiva de Carolino).
Alberto Soares inquieta-se perante a morte (do pai, de Cristina, de Sofia, perante os lugares como a montanha, a cidade de Évora, a casa). Contempla-se diante de si e inquieta-se procurando resposta para a pergunta: “Quem sou eu?”
Para além da resposta às exigências materiais do Homem, Alberto Soares, portador da inquietação metafísica de Vergílio Ferreira, procura um sentido para a existência. É neste romance uma personagem central, cujo ponto de vista avassalador é preenchido pelo assombro e pela inquietação.
CARACTERIZAÇÃO DE PERSONAGENS
ALBERTO SOARES
Professor do liceu, personagem principal. Vai dar aulas para Évora. Tratam-no por monge em família por ser tão introvertido. Sente uma imensa angústia resultante da “violência da descoberta da morte”, que surge no momento em que tem de vestir o seu pai que está morto. Acha que existe um pacto entre o nome e a pessoa. Pensa que a profissão não se escolhe, é algo que nos sai. Sente uma imensa necessidade de justificar a vida em face da inverosimilhança da morte.
Deixou de ser crente em Deus e acha que o ser existe enquanto existe na memória das pessoas.
Sente-se perturbado com a presença de Sofia acabando por se envolver com ela numa relação amorosa.
Sente espanto, fúria e terror pela morte do Bailote. Pretende elucidar as pessoas sobre o milagre de estar vivo.
Narra uma história de infância para explicar a imagem de si a si próprio - o espelho devolveu-lhe a sua própria imagem e ele toma consciência de si próprio.
Fica surpreendido com Carolino por este ter compreendido os seus princípios e por defendê-los. Descobre-se a si mesmo, que apenas está vivo e que Deus morreu, não existe.
Sente-se incomodado na presença de Ana pois esta quer saber o que há entre ele e a irmã, acabando por difamar a própria irmã.
Afirma-se materialista. Deseja ir morar para a Casa do Alto e deixa a Pensão Machado. Mostra-se entusiasmado com a sua profissão e com os novos métodos que experimenta. Diz-nos que há já algum tempo que luta “por reconduzir à dimensão humana tudo quanto traz ainda um rasto divino”. Mais uma vez faz referência à sua infância e ao seu cão Mondego. Recorda o desgosto que sentiu com a morte do cão, o seu 1ºcontacto com a morte. Descreve-nos a ceia de Natal, quebrou-se o hábito familiar depois da morte do pai. Alberto sente-se só mas sente-se bem. Ouve os cânticos de Natal e considera-os “lavados da sua pureza”. Para ele Tomás, o irmão mais velho, é um ser “adormecido nesta quietude da terra” que no fundo não sabe que é mortal”.
A pensão Machado fechou e Alberto instala-se na Pensão Eborense. Manifesta o desejo de tirar a carta com o sorteio dos bens. Apetece-lhe rever Sofia. Sente que há algo entre Sofia e Carolino. É advertido pelo Reitor do perigo de dar lições particulares. Sai com Sofia e esta revela-lhe que foi ela que o denunciou. Aluga a Casa de São Bento- casa do Alto
Para ele só “se é homem assumindo tudo o que fale em nós”.
Alberto assiste ao desastre de Cristina. Fica muito perturbado. É visitado por Carolino que o tenta assassinar, mas Alberto assume um comportamento surpreendente- esbofeteia o rapaz até se estafar.
É convidado pelo Reitor a deixar Évora por causa do escândalo que corre pela cidade. Na sua conversa com Ana percebe que em Cristina havia várias personalidades: a que se vestiu de holandesa e a que tocava piano.
Alberto gosta de estar só e de pensar nas coisas. Chico responsabiliza-o pelas suas ideias perversas e por influenciar Ana a ponto de esta falar como ele. Faz uma viagem pelo país. É informado por Alfredo que Sofia tenta de novo o suicídio. Passa pelos ceifeiros e perturba-se. A sua intenção era trazer para a condição humana uma condição de Deus.
Recebe um telefonema ameaçador do Liceu. Sabe que Sofia apareceu assassinada com um punhal. Parte para Faro.
Chico considera Alberto o responsável pela morte de Sofia e ele assume essa responsabilidade. É dispensado pelo Reitor do serviço de exames.
Na sua última noite na Casa do Alto, surpreende-se com a magia da queimada. Imagina toda a cidade a arder. O homem deve construir o seu reino e achar o seu lugar na verdade da vida. Compreende então a loucura do Bexiguinha.
À distância de alguns anos casou, adoeceu e retirou-se do ensino.
MÃE DE ALBERTO
Chama-se Susana, é carinhosa, tinha um olhar de mansidão e amargura.
Evaristo, o seu filho mais novo, é o seu preferido pois recorda-lhe a maternidade. É muito beata e pouco interessada pela vida de Alberto. Está habituada ao silêncio. Na ceia de Natal, depois da morte do marido, fica sozinha com o seu filho Alberto, sob um imenso silêncio. Critica os filhos por nem no dia de Natal assistirem à missa.
PAI DE ALBERTO
Chamava-se Álvaro, tratavam-no por “velhote”. Ouvia os filhos com tolerância, era médico, gostava de Ter a casa cheia, teve uma morte súbita numa noite de luar.
Ajudou Alberto na escolha da profissão pois cedo descobriu que ele era uma criança atenta que procurava coisas mais profundas. A sua morte e o trabalho de o vestir já sem vida origina em Alberto “uma angústia resultante da violenta descoberta da morte”. Com o seu desaparecimento quebram-se as tradições familiares e dá-se o desmembramento da família. Era ateu. Tomás era o seu filho preferido.
1 comentário:
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